5 filmes de terror para assistir nas férias

Aqui lhes ofereço, com muita liberdade, uma lista de filmes de terror. Procurei ser o menos óbvio possível, sem querer parecer pretensioso demais mas também sem querer ser clichê.

Não me levem a mal. Muitas obras de terror que admiro, mas que cito aqui apenas como menções honrosas. “Pânico”, “O Exorcista”, “O bebê de Rosemary”, “O Chamado” e obras do cineasta Jordan Peele são alguns dos exemplos que me marcaram bastante. Contudo, aqui busco ampliar um pouco mais os horizontes e mostrar o quão versátil o gênero pode ser.

O Exorcista 3″ (1990) Dir: William Peter Blatty

Eu sei o quão estranho essa primeira recomendação pode soar, pois é bem óbvio a importância do primeiro “O Exorcista” para o terror assim como também é óbvia a mediocridade de sua continuação. Mas, “O Exorcista 3” é bem diferente e para entender isso devemos pegar um contexto externo. O longa é baseado no livro “Legião”, escrito pelo próprio diretor da adaptação, William Blatty. Assim que Blatty começou a rodar o filme, por pressão do próprio estúdio foi obrigado a trocar o título e alterar o clímax para amarrar com a franquia “O Exorcista”.

Tirando isso do caminho, é necessário dizer que “O Exorcista 3” é um grande thriller psicológico, que foi subestimado por causa do seu título. Na trama, acompanhamos o detetive William Kinderman, que ao investigar uma série de assassinatos vai parar em um hospital psiquiátrico atrás de um paciente sem memórias que pode ser a chave para a solução dos crimes. E é nesse clima que, pode até lembrar “Ilha do Medo”, filme de Martin Scorsese com Leonardo DiCaprio, que o filme se desenvolve num clima tenso que faz com o que o personagem questiona o que é realidade ou alucinação. O que vale a visita a esse longe sem dúvida é a direção de Blatty. Ao entender que um hospital psiquiátrico por si só é um ambiente assustador, o cineasta produz cenas com pouca trilha sonora que evoca sentimentos de isolamento e desconforto, essa habilitando em conduzir o clima da cena é levado ao máximo em uma sequência que resulta em um dos melhores jump scaries do cinema. Uma pena o filme ter passado por um inferno de produção. Blatty foi pressionado pelo estúdio a não só mudar o título do filme. mas como seu clímax e talvez por isso seja raro encontrar trabalhos do autor como diretor e uma pena que o mais acessível seja aquele que tenha causado tanto desgosto a ele pela direção de grandes projetos.

Possessão (1981)” Dir: Andrzej Żuławski

Esse é aquele filme esquisito que, muito provavelmente, as pessoas não vão gostar pois não vão entender nada. Potencialmente o percursor do chamado hoje em dia “horror elevado”, “Possessão” se aproveitou do elemento sobrenatural e do teor fantástico de sua trama para falar sobre relacionamento, trabalho, e um modelo de vida que a sociedade impõe como sendo o ideal. Na trama, Mark contrata um detetive particular e descobre que sua esposa, Anna, tem um amante. Após a separação e de um período conturbado de depressão, Mark descobre quem é o amante de sua esposa, uma criatura disforme e tentacular.

Essa sinopse pode parece que entrega tudo da trama, mas esse é somente a ponta do iceberg, o foco mesmo está no desenvolvimento dessa relação entre o casal que tenta ficar unidos mesmo percebendo que não tem como, entra brigas, berros e surtos, vemos as consequências do que acontece quando forçadamente tentamos nos encaixar num modelo padronizado, sacrificando nossa sanidade mental e felicidade no processo.

Candyman” (1992) Dir: Bernard Rose

Falando em potenciais precursores, o filme que talvez seja o mais conhecido da lista. “Candyman” pode ter sido a principal influência de uma tendência moderna que surgiu com Jordan Peele ao implantar assuntos sociais, como racismo, em seus filmes, tal qual fez em “Corra!”. Baseado no livro de Clive Barker, acompanhamos Helen, uma estudante universitária cuja pesquisa sobre folclore a leva até a lenda urbana de “Candyman”, que possui uma grande influência na população negra de Cabrini Green, um bairro pobre da cidade de Chicago.

São muitos os elementos que fazem esse filme memorável, seja a voz e atuação imponente de Tony Todd, interpretando o personagem título, ou o visual que vai contra qualquer outro de assino de filme slasher, “Candyman” aparece aqui vestindo roupas de alta classe com um postura reta e vocabulário rebuscado, ou pela violência que não deixa a desejar em nenhum momento.

Além disso, o filme ainda encontra espaço para comentários sociais, mirando nas diferenças sociais entra o povo da cidade é levantando discussão sobre o que realmente separa as pessoas de alta e baixa renda. Não à toa, a cena mais memorável para mim não é nenhuma a ver com susto ou algo tenso, mas sim quando Helen ao se aprofundar na origem da lenda consegue plantas das casas de Cabrini Green e percebe que são exatamente iguais às plantas do condomínio de luxo em que vive.

A Médium” (2021) Dir: Banjong Pisanthanakun

Se você for uma pessoa desavisada, que tenha encontrado um trailer ou até mesmo filme completo em algum streaming, talvez tenha entendido que seja apenas um documentário sobre práticas religiosas na Tailândia. Se sim, essa é a melhor forma de assistir “A Médium”. O longa se propõe a ser um documentário sobre uma líder religiosa e suas práticas em uma região rural do país, mas tudo piora quando uma jovem é possuída por uma entidade maligna.

“A Médium” é um filme que se dedica, durante muito tempo de sua rodagem, à linguagem de documentário e só para quando tem a certeza que o espectador está completamente imerso nessa realidade.

O diretor Banjong Pisanthanakun dedica boa parte das duas horas do filme a estabelecer conceitos e apresentar personagens de maneira que nunca se desvie do foco principal. Após mais ou menos uma hora de filme que começa a acontecer algo verdadeiramente sobrenatural nos moldes que estamos acostumados a ver, mas a essa altura do campeonato, após estabelecer que tudo é real, deixa o filme muito mais assustador.

A Chorona” (2019) Dir: Jayro Bustamante

Vou ser bem óbvio aqui e ressaltar que você não deve confundir esse filme com “A Maldição da Chorona”, filme americano lançado no mesmo ano. “A Chorona”, de Jayro Bustamante, foi o representante da Guatemala no Oscar de 2020 e as diferenças entre as duas produções são notáveis. Aqui acompanhamos um general que liderou um genocídio contra o povo nativo da Guatemala e está sendo julgado 30 anos depois. Em meio a revolta da população do lado de fora da mansão, o homem é atormentado pela figura da Chorona, que se intensifica após a chegada da nova empregada Alma. Ao fazer essa recomendação eu peço novamente ao leitores paciência, pois esse longo está carregado de carga dramática e seus eventos sobrenaturais fazem jus a toda melancolia que sua história carrega.

A entidade da Chorona é trabalhada com mais afinco, um filme que é realizado pelo povo de origem da lenda faz toda diferença, trazendo um senso de justiça e reparação histórica, ao invés de assustar ela quer que os personagens sintam toda dor e sofrimento que causaram as pessoas fazendo os personagens sentirem uma espécie de empatia forçada. Valeu o seu tempo para quem quer um história bem trabalhada longe de qualquer clichê que a versão Hollywoodiana carrega.

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