Planilha expõe as piores empresas para se trabalhar no Brasil

Quem nunca trabalhou em uma empresa tóxica, não é mesmo? Caso não seja este o seu caso, nós ficamos muito felizes por você. Contudo, como será mostrado a seguir, têm um grande número de pessoas que tiveram experiências ruins em empregos.

Dentro deste contexto, o engenheiro de software Anderson Weber criou uma plataforma online na qual as pessoas podem citar as piores empresas que trabalharam. Além disso, o internauta também pode deixar um comentário a respeito de sua passagem por tal emprego. No fim, a pesquisa acabou rendendo uma planilha que pode ser acessada livremente por qualquer interessado. Nós do Cova Aberta fizemos uma análise em cima destas informações disponibilizadas.

Na semana entre os dias 25 e 29 de março, a planilha atingiu o limite máximo de 30 mil células preenchidas. Para a reportagem, nos limitamos a analisar esta primeira que foi completa, mas caso entre no link do projeto, é possível que se encontre outras empresas a depender da data que se acesse. Abaixo, é possível ver um levantamento das 10 empresas mais citadas por funcionários e ex-funcionários insatisfeitos:

  • 1 – Mottu
  • 2 – Accenture
  • 3 – VHSYS
  • 4 – CI&T
  • 5 – Wise System
  • 6 – IBM
  • 7 – Nestlé
  • 8 – Ambev
  • 9 – Stefanini
  • 10 – Kanastra

Existem alguns fatores que precisam ser levados em consideração ao analisar tais dados coletados nesta primeira planilha. A primeira delas é que muitas pessoas usaram de tal espaço para tumultuar e encheram as células de informações irrelevantes, o que nos levou a necessidade de filtrar este montante de embuste. A título de exemplo, quando fizemos uma análise de frequência que nos levou a elencar as 10 empresas mais citadas acima, em alguns lugares ficaram com empreendimentos que não existem, chamados de “Flango”, “ArrozDoce” e “Buru” – os comentários desconexos nas motivações e o intervalo de até dois segundos entre as células corroboram com a tentativa de tumultuar.

Outro ponto é que, na décima primeira posição, alguém escreveu exatas 51 células com os mesmos comentários contra a empresa “Padaria Delícias do Trigo”. Só que não é possível sequer saber qual empreendimento é esse, uma vez que com uma simples pesquisa na internet é possível achar diferentes locais com o mesmo nome em cidades distintas. O mesmo vale para a multinacional do ramo de fast-food McDonalds, na qual teve o segundo maior número de menções, mas todas repetindo os mesmos problemas de criação de tumulto e comentários desconexos e iguais em um intervalo de tempo de poucos segundos.

Por fim, também é válido o destaque de que não vamos citar nenhum dos nomes que são mencionados no arquivo. Em alguns casos, até mesmo os nomes de donos, gestores e colegas tóxicos foram expostos. Também não iremos falar a respeito dos comentários que denunciam casos mais graves e que seriam prudentes serem apuradas pela Justiça, como relatos de assédio e racismo.

O homem por detrás da ideia

Natural de Gramado, na Serra Gaúcha, o engenheiro de software Anderson Weber tem 32 anos e atua em empresas todo Brasil e no exterior. Sendo formado em ciência de dados, ele afirma que é apaixonado por modelos de negócio disruptivos.

Weber nos conta que, com certa frequência, recebe mensagens em suas redes sociais a respeito dos ambientes de trabalho tóxicos. Além disso, ele conta que nas empresas que atua, algumas possuem o certificado GPTW (abreviação de Great Place To Work, que traduzindo fica “Bom Lugar Para Trabalhar), mas outras não, o que o deixou em contato com a realidade questionável de alguns empreendimentos. De acordo com o engenheiro, existem parcerias que buscam resolver o problema das vozes silenciadas e as empresas com cultura inadequada.

O medo do boicote ainda silencia pessoas que sofrem assédio, humilhação e diversas outras ações que vão contra lei civil, penal, trabalhista e até contratual em casos PJ (algumas possuem todas). Estamos aqui para dar voz às pessoas e dar assessoria às empresas para saberem destas condutas e resolverem – afirma.

Apesar de termos visto empresas de médio e grande porte nas 10 primeiras colocações da planilha, Weber chama atenção que a cultura das micro e pequenas empresas tende a ser muito pior do que as maiores. Ele comenta que, na sua experiência, os negócios menores tendem a ser mais abusivos com funcionárias grávidas, negros e pessoas que ocupam cargos que requerem baixa escolaridade. E quando analisamos os comentários, podemos perceber que essa visão tende se mostrar precisa.

Mas nem tudo foram flores na iniciativa de Weber, pois ele afirma que desde que pôs o projeto em prática se deparou com críticas e até mesmo ameaças. Além disso, devido a repercussão, o engenheiro relata que acabou privando suas redes sociais de uso mais pessoal, como o Instagram. No entanto, seu principal canal de comunicação, o LinkedIn, segue aberto e com novos conteúdos.

– A repercussão com certeza me afetou. Tive dois contratos grandes encerrados com empresas brasileiras sem motivo algum. Foi repentino e via WhatsApp. Mas eu coloquei o meu na reta, sem medo. E estamos só começando – conta.

Devido sua carreira em âmbito internacional, o engenheiro afirma que garantiu sua proteção financeira dentro deste contexto. Por fim, Weber destaca que no Brasil provavelmente só receberá agora propostas de empresas realmente preocupadas com os problemas e as melhorias sugeridas pela iniciativa.

Analisando os comentários

Apesar de as empresas citadas na planilha serem dos mais variados segmentos, grande parte das reclamações partiram de pessoas relacionadas as áreas de tecnologia da informação (TI) e informática. Somente nas 10 empresas que mais apareceram, seis são deste setor. As demais são do ramo alimentício, bancário e aluguel de motos.

Alguns itens desta planilha chamam atenção, principalmente para quem não tem conhecimento sobre a realidade da área de TI. Podemos observar assim que, apesar das oportunidades atraentes de remuneração alta, o setor é um dos que mais podemos encontrar trabalhadores insatisfeitos. Nos comentários, é possível perceber que são diversos os problemas que causam a situação, como:

  • Ineficiência na liderança;
  • Sobrecarga de trabalho;
  • Assédio e atitudes criminosas;
  • Salário e benefícios baixos;
  • Insegurança e ausência de empatia;
  • Desorganização e falta de estrutura;
  • Falta de perspectiva;
  • Coalização insidiosa (famosa panelinha);
  • Falta de transparência;
  • Competitividade excessiva.

Um fator que chama atenção – não só nas empresas de tecnologia, mas em outros setores também – é o que muitos chamam de “política do puxa-saquismo”. Isto é: ou você bajula os donos e gestores ou então você não progride na carreira. Alguns comentários relatam também ambientes insalubres de trabalho, sem higienização de banheiros e dependências de trabalho.

Outro ponto que chama atenção é com relação a exploração de mão de obra de estagiários dentro das empresas de tecnologia. Segundo os relatos, muitos estudantes são obrigados a executar tarefas de alguém em cargo efetivo e que também acabam sendo pressionados a fazerem horas-extras.

O caso da empresa de aluguel de Mottu, o empreendimento mais citado nesta planilha, é um dos mais complexos de serem analisados. Para começar, alguns comentários são bastante enfáticos nos diversos problemas que o negócio possui, como: liderança tóxica, insalubridade nas oficinas, falta de infraestrutura e materiais, horas-extras não remuneradas e acobertamento de “preferidos” em detrimento de outros funcionários menos quistos pelos gestores.

Apesar de não terem aparecido nas dez primeiras colocações, nas posições mais inferiores podemos ver reclamações também de trabalhadores contra empresas do ramo da educação, como universidades, cursos técnicos e de idiomas. Um dos pontos mais destacados é o fato de que existe uma falta de comprometimento com alunos e os professores são desvalorizados, sendo que o principal foco é na retenção de estudantes, sem necessariamente oferecer um aprendizado de qualidade.

Nós do Cova Aberta mantemos o canal aberto para qualquer empresa que queira se posicionar a respeito do caso.

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