“Drácula” não é um livro tão bom quanto dizem

Em algum momento, antes de 2020, escrevi uma crítica a respeito do livro “Drácula”, de Bram Stoker. Recentemente redescobri o texto e vi o quanto não havia gostado da obra. Intrigado com o meu eu do “velho testamento”, resolvi revisitar o livro para ver se minha opinião mudaria. E bom: não, não mudou. Eu escreveria esta crítica de forma diferente nos dias de hoje (provavelmente não medindo muito as palavras), mas a essência do que eu penso segue a mesma: Drácula é um livro bastante superestimado.

A crítica

Nunca fui muito fã de histórias de vampiros. Contudo, como meu gênero preferido é terror, seria difícil que não acompanhasse nada relacionado aos notívagos chupadores de sangue em algum momento. Apesar disso, reconheço o valor de uma boa narrativa quando me deparo com alguma e, para mim, as duas melhores envolvendo vampiros é o livro “Salém”, de Stephen King, e um anime chamado “Shiki” – ouso dizer que esse último é um dos melhores da história.

É impossível não lembrar da Magnum Opus de Bram Stoker quando falamos sobre vampiros. Por isso que, em uma noite de verão, acabei comprando um exemplar em uma livraria de Porto Alegre. Comecei a ler assim que cheguei em casa.

A narrativa de “Drácula” é construída através de cartas, trechos de diários, recortes de jornais, telegramas e – o que mais me chamou a atenção – relatos orais registrados em um fonógrafo. Isso tudo acaba caracterizando a obra toda como um romance epistolar. Esse tipo de narrativa já foi mais popular séculos atrás, sendo que uma das justificativas para se utilizar dessa técnica é o tom de veracidade passado ao leitor. Tal elemento até ocorre em “Drácula” no início, mas não é essa a impressão que se vai ter durante boa parte da obra.

Apesar dos problemas, o romance tem seus bons momentos. O maior exemplo disso é justamente o começo do livro, quando acompanhamos o relato de Jonathan Harker sobre os horrores que passou no castelo do vampiro. Neste ponto, Bram Stoker consegue com emular com maestria o tom de veracidade que as páginas do diário transmitem. Em alguns instantes me peguei com o coração batendo forte. E quem dera que o livro tivesse terminado aí.

É quando os demais personagens começam seus próprios relatos que a qualidade da história e da narrativa cai bastante. Nos capítulos que se seguem, o livro conta com a pieguice que só estragou toda uma história que, no início, demonstrou um potencial gigantesco. O que resta de bom, neste momento, são momentos específicos, como a cena de quando todos os homens precisaram lidar com a maldição de uma personagem e o embate do Dr. Van Helsing contra as “noivas” do vilão. Mas são acertos diluídos dentro de tantas páginas galhofadas que podem passar despercebidos.

Vale destacar que a história, de um modo geral, não tem contrapontos e em alguns momentos até mesmo utiliza de algumas “trapaças”, como um deus ex machina. Exemplo disso é quando, perto do final, o Dr. Van Helsing usa técnicas de hipnose (até então sequer citadas) em uma das protagonistas para descobrir a localização do vampiro.

Se formos considerar todo conjunto da obra, “Drácula” é um livro que vale a pena ser lido somente pelo valor histórico como um dos principais difusores da mito do vampiro no mundo e influência que teve nas histórias de terror. Devo advertir que alguns leitores mais sensíveis podem se sentir incomodados com certas observações machistas em alguns trechos – eu não identifiquei isso na minha leitura. Eu, pessoalmente, torci mais o nariz para a ingenuidade e a pieguice de certos personagens.

E já que estamos falando de Bram Stoker, gostaria de encerrar com a recomendação de um conto do mesmo autor chamado “A Bugra”. Não tem nada a ver com vampiros, mas garanto que é excelente – ainda mais para quem gosta de “O Gato Preto” de Edgar Allan Poe.

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