O lado B do Japão

Em terras tupiniquins e latino-americanas, o Japão se apresenta como um país místico e espiritual, com um povo conhecido pela disciplina e respeito. Contudo, isso não passa de um estereótipo. Assim como em qualquer outro lugar do mundo, o povo japonês tem suas virtudes e pecados.

Dessa forma, mesmo que eventualmente saibamos de algumas bizarrices envolvendo o Japão, raramente nos atentamos aos fatos perturbadores que assombram a sociedade e a história do país. Hoje, iremos abordar mais a respeito do lado pouco explorado da terra do sol nascente.

Crimes de guerra

Por mais que a lembrança que temos do Japão na Segunda Guerra Mundial seja com relação aos ataques com as bombas atômicas em Hiroshima e Nagazaki, é sempre bom recordar que o país estava do lado da Alemanha e da Itália no conflito. Portanto, apesar de a atrocidade atômica ter ofuscado e “desculpado” os japoneses nesse contexto, é sempre bom lembrar que o país foi um dos mais agressivos e traiçoeiros no conflito e em todos os outros ao longo da história.

Um dos eventos mais importantes para o assentamento da identidade nacional japonesa foi o conflito contra o Império Mongol no século XIII. Naquele tempo, a dominação do império era avassaladora em grande parte do continente asiático, sendo considerado a maior da época. Porém, quando os mongóis tentaram invadir o Japão, suas tentativas foram frustradas por tufões violentos que destruíram a frota de navios dos invasores — evento que ficou conhecido como “kamikaze”, que significa “vento divino”. Esse episódio foi importantíssimo para elevação do espírito nacional japonês, que foi capaz de “derrotar” o maior império da época e se lançar no cenário internacional.

Dessa forma, o primeiro grande conflito que o Japão saiu perdedor foi justamente na Segunda Guerra Mundial. Até mesmo na guerra contra o Império Russo, entre os anos de 1904 e 1905, pelo domínio da Manchúria, os japoneses levaram a melhor.

Dentre todos os motivos que levaram os japoneses a terem tantas vitórias em conflitos bélicos ao longo da história, também podemos destacar a violência e brutalidade. Inclusive, esse comportamento era incentivado pelos generais e superiores. Um dos últimos exemplos desse aspecto sombrio foi, como já citada, a Segunda Guerra Mundial. Em questão de pouco tempo, as forças japonesas derrotaram ingleses, franceses e americanos em diversas áreas da Ásia, como Filipinas, Malásia e Cingapura. Além disso, antes do início “oficial” da Segunda Guerra Mundial, o Japão já travava um conflito com a China que se iniciou em 1937.

Todos os locais dominados pelo Japão passaram por situações parecidas: os soldados escravizavam, torturavam e estupravam com requintes de crueldade a população dominada. Praticamente todos os países que tiveram presença japonesa no período relatam histórias parecidas, portanto a independência das diferentes fontes nos aponta para indícios de que as histórias não exageram ao relatar tais atrocidades.

Um dos casos mais famosos do Japão no conflito com a China ficou conhecido como “Estupro de Nanquim”. O episódio durou seis semanas, entre o final de 1937 e o começo de 1938. As tropas japonesas desembarcaram em Nanquim, que era a capital chinesa da época e, além de dominar as forças militares locais, realizaram diversos massacres contra a população civil, que era executava com tiros, enforcamentos e esfaqueamentos. Muitos se refugiaram em templos budistas, mas mesmo assim foram mortos. Estimativas apontam que 260 mil chineses foram mortos no período.

Existem relatos, inclusive, que alguns soldados esfaqueavam as barrigas de mulheres grávidas com as baionetas das armas até expor totalmente os fetos. Decapitações com espadas viraram uma espécie de esporte entre os soldados japoneses, que competiam para ver quem decepava cabeças com maior velocidade e precisão — as cabeças depois eram penduradas em árvores para que fosse feita uma “contagem de pontos”. Mulheres eram transportadas em caminhões para serem usadas como escravas sexuais e, posteriormente, executadas. Os restos mortais das vítimas eram usados para alimentar animais domésticos. Posteriormente, as tropas japonesas expandiram seus domínios pela China e tentaram invadir a Rússia, mas sem sucesso. Até que, em 1941, o Japão decidiu atacar Pearl Harbor e o resto da história a gente já conhece.

Até hoje, o Estupro de Nanquim é polêmico entre os japoneses, que negam ou atenuam os crimes de guerra cometidos. Infelizmente, essa é uma prática bastante comum no país, que durante séculos costumavam alterar os registros oficiais, portanto existem questões da história do país que até hoje são nebulosos — essa situação se agrava quando lembramos que, durante séculos, o Japão foi um país fechado e pobre, dificultando a obtenção de outras fontes independentes. Uma curiosidade a respeito desse episódio durante sua guerra contra a China é que até mesmo a Alemanha nazista, que já soava os tambores da guerra na Europa, se incomodou com o excesso de violência das tropas japonesas.

Hábitos sexuais bizarros e hipergamia extrema

Os japoneses não são conhecidos pela sua grande atividade sexual. Essa realidade se traduz até mesmo em sua baixa taxa de natalidade e envelhecimento rápido da população. Inclusive, iniciativas do governo tentam estimular que os mais jovens se casem mais e tenham mais filhos, mas até o momento essas atitudes não têm surtido muito efeito.

Aspectos culturais e econômicos corroboram com essa situação, pois imóveis são cada vez mais caros no país e existe a tendência de querer se casar apenas após ter a casa ou apartamento próprios. Além disso, a cultura de trabalho pesado por longas horas (ou dias) seguidos acaba desestimulando muitos a se casar e ter filhos, pois pensam que não vão ter tempo para se dedicar à família, ou que esses fatores podem atrapalhar na carreira.

Além disso, a lógica da hipergamia costuma vigorar com força no Japão. Isto é: mulheres só tendem a casar ou se relacionar com homens cuja posição social e econômica seja superior. E como existem cada vez mais mulheres adeptas ao mercado de trabalho, o que as dá maior condição e independência financeira, se torna cada vez mais difícil encontrar homens em condições “superiores”, o que faz com que que os japoneses permaneçam solteiros por muito mais tempo.

Existem iniciativas públicas e privadas que tentam fazer com que os japoneses “se abram mais para o amor”, deixando de lado as questões econômicas, mas esse aspecto cultural é tão forte que se tornou um desafio para aumentar a taxa de natalidade do país. Exemplo disso são os encontros grupais promovidos por empresas, mas o que se observa nesses eventos é que as mulheres tendem a se acumular ao redor dos poucos homens com maior renda.

Porém, quando o japonês resolve fazer sexo, suas preferências não costumam ser convencionais.

Bonecas sexuais ultrarrealistas são vistas como uma alternativa no país asiático, pois assim é “mais fácil” do que se relacionar com um ser humano de carne e osso. A prostituição no Japão também costuma ser pouco usual, pois como a prática é ilegal no país desde os anos 1950, as profissionais do sexo costumam ser escondidas e disfarçadas como garçonetes ou atendentes em locais específicos. Além disso, as prostitutas costumam se vestir e adotar comportamentos infantis, que são vistos como “sexualmente estimulantes” por muitos japoneses.

Outro ponto muito importante é com relação ao consumo de pornografia no Japão. De forma curiosa e bizarra, a produção de conteúdo pornográfico não tem qualquer tipo de restrição, mas a comercialização desse tipo de material é ilegal. Porém, algumas brechas na lei japonesa apontam que é proibida “a reprodução de conteúdo que mostre contato genital”, o que leva muitos produtores simplesmente borrar tais pedaços das peças — por isso que a pornografia japonesa tem filtros de “blur” nos pênis e vaginas dos atores. Outra estratégia é criar uma história no material pornográfico que aponte um dos atores como um alienígena ou monstro, pois daí “não é um pênis, mas sim um tentáculo ou membro-extra”.

Práticas sexuais também costumam ter uma dose de bizarrice no Japão. Beijos eróticos lambendo o globo ocular do parceiro não são raros. Formas não convencionais de penetração, como o “anal giratório” — quando um dos parceiros é utilizado como se fosse uma “hélice” — também são uma das preferidas pelos japoneses.

Pois é: o povo do Japão pode até ser disciplinado e honrado, mas quando possuem a oportunidade de exagerar, eles exageram até demais.

Lan houses como casas e hikikomori

Lembra do que foi mencionado a respeito dos preços cada vez mais altos dos imóveis no Japão? Pois é, isso acaba levando a outros problemas sociais no país.

Devido a alta densidade demográfica, é natural que as moradias acabem tendo um preço salgado. Para se ter uma ideia, são 125 milhões de habitantes em um território de 378 mil quilômetros quadrados. A título de comparação, é quase como se mais da metade de toda a população brasileira estivesse “espremida” em um território 22 vezes menor.

Dessa forma, muitas pessoas que saem de cidades menores para tentar a vida em metrópoles, acabam se deparando com a dura realidade de terem que viver em apartamentos claustrofóbicos e com um aluguel elevado. Quando nem mesmo isso é possível de pagar, muitos acabam recorrendo a moradias inusitadas para não precisarem dormir nas ruas.

É bastante comum no Japão encontrar lan houses que oferecem não só computadores para uso pessoal, mas também um pequeno quarto para que o cliente tenha privacidade — são equipados com um sofá e um pequeno armário. Esses espaços costumam ter preços bem mais acessíveis mesmo que se pague diariamente pelo uso. Dessa forma, muitos japoneses que não têm onde ficar, optam por “morar” nesses pequenos espaços.

De início, geralmente, eles adotam essa medida como provisória enquanto não encontram outro lugar melhor para ficar, mas complicações financeiras e profissionais levam muitas pessoas a ficarem meses ou até anos nessas condições. O governo japonês não os considera como “sem-teto”, pois quase sempre essas pessoas têm empregos e meios de se sustentarem, apesar de não ser o suficiente para que possam pagar um aluguel. Além disso, muitas dessas pessoas acham “desvantajoso” gastar dinheiro com uma moradia mais convencional pelo fato de passarem a maior parte de seus dias trabalhando.

Na outra ponta, existem aqueles que se isolam dentro de seus quartos ao ponto de sequer terem contato com a própria família que dividem o mesmo teto com eles. Esses são os hikikomori, que geralmente são jovens com uma fobia social tão extrema que não saem de seus quartos sequer para tomar banho e comer — seus pais costumam deixar as refeições na porta. Essa condição está atrelada a outros problemas psicológicos, como depressão e ansiedade, mas também sociais, como pressão por “ser bem sucedido”.

Nos últimos anos, os números de pessoas nessa situação têm aumentado e se tornou um problema de saúde pública no Japão. O Ministério da Saúde do país estima que 500 mil pessoas estejam nessas condições atualmente. Serviços públicos e privados de ajuda a essa população têm sido criados, com assistentes sociais e psicólogos que os estimulam a “ver o mundo de fora” e até mesmo os levando para fazer passeios. Porém, o desfecho de muitas dessas histórias costuma ser trágico, pois não é raro que os hikikomori acabem tirando a própria vida.

Diversos animes e mangás retratam a realidade dos hikikomori de forma não saudável, sendo que muitas vezes até mesmo “reforçam” os delírios dos mesmos. Exemplo disso são obras no estilo “isekai”, que se tornaram muito populares nos últimos anos. Geralmente o protagonista é um hikikomori ou um “fracassado social” que cai em outro mundo na qual eles se tornam heróis ou figuras de poder importantes.

Um comentário

  1. Realmente, eu não conhecia esse lado b do Japão. Eu costumava ver animes e ler mangás quando era mais jovem. Não sei se chegou a ver um canal chamado Locomotion. Ele era muito popular nos 90. Eu passava a maior parte do meu tempo assistindo.

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