Estudo macabro: as sinistras Fazendas de Corpos

A ciência forense tem sido aperfeiçoada e desenvolvida há muitas décadas no mundo inteiro. Novas técnicas de análise das mais diferentes circunstâncias são criadas e divulgadas com frequência para ajudar na elucidação de crimes e mistérios. Assim, é possível dizer que a ciência forense não é só um campo fascinante (apesar de mórbido), mas também um elemento-chave para que a Justiça seja feita.

Contudo, é interessante notar que, apesar dos aparatos tecnológicos e científicos modernos, existem alguns obstáculos existentes desde sempre. Um destes desafios é a determinação exata data e hora da morte de uma pessoa com base em seus restos mortais.

Diferentes especialistas podem ser muito úteis nesta tarefa, como médicos legistas, patologistas, entomologistas (especialistas em insetos), antropólogos, dentre outros. Contudo, mesmo com uma equipe diversificada e tecnologia moderna, o momento exato da morte pode ser apenas estipulado com uma margem de erro considerável.

Durante muito tempo, a “regra” seguida pelos analistas é de que o corpo perde 2Cº na primeira hora e depois vai perdendo 1Cº por hora até atingir a temperatura ambiente. Porém, esse parâmetro já foi descartado há muito tempo, pois existem diferentes fatores que influenciam na perda de calor, como nível de gordura corporal, ambiente e até mesmo a causa da morte e posição do corpo influenciam nisso.

De acordo com o dr. Vincent Di Maio em “O Segredo dos Corpos”, caso alguém determine a hora exata para a morte de uma pessoa seria prudente prendê-la no mesmo momento, pois seria considerado o principal suspeito. Isto porque apenas o assassino poderia ter essa informação, uma vez que a margem de erro ao estipular um horário pode chegar até seis horas, para mais ou para menos.

E por que é tão importante saber a hora exata da morte de uma pessoa? Por um motivo muito simples: verificação de álibis. Caso se tenha uma noção mais precisa da hora que uma pessoa foi morta, é possível verificar se os suspeitos estariam falando a verdade sobre o local onde estariam no momento do crime.

Diante da dificuldade em determinar com exatidão tais informações, surgiu a necessidade de elaborar estudos mais aprofundados a respeito do tema. Mas como fazer isso? A solução encontrada pode soar tanto quanto macabra quanto fascinante.

Em 1981, o antropólogo William M. Bass, da Universidade do Tennessee em Knoxville, nos Estados Unidos, criou a primeira “Fazenda de Corpos”, com o objetivo de estudar com riqueza de detalhes a forma como os corpos humanos se decompõem desde o momento de sua morte. Vale destacar que a Fazenda de Corpos do Tennessee foi só a primeira a ser criada. Atualmente, apenas nos Estados Unidos, existem um total de sete espaços destinados para tais estudos em diferentes estados. Locais parecidos também foram criados no Reino Unido, Canadá, Austrália e Índia. No Brasil, não existe nenhuma instalação do tipo, mas a comunidade forense defende a criação há alguns anos, apesar de existir obstáculos jurídicos e culturais que dificultam o projeto.

Os corpos obtidos para estudo são todos doados de forma voluntária pelos próprios falecidos antes de suas mortes – se estipula que cerca de 100 corpos são doados anualmente só nos Estados Unidos. Além disso, também são usados porcos em alguns estudos devido a similaridade com a biologia humana. Uma vez que a “matéria prima” é obtida, os pesquisadores os deixam para apodrecer em diferentes circunstâncias, como ao ar livre, enterrados, dentro de ambientes fechados, esquartejados, dentre outras diferentes formas. Nas Fazendas de Corpos, os pesquisadores conseguem emular até mesmo diferentes ambientes, como pântanos, desertos, dentre outros. A estação do ano também é muito importante para os estudos e, por isso, os espaços funcionam durante todos os dias do ano.

Isso tudo pode soar bizarro e até antiético, mas é garantido que todas as práticas adotadas pelos pesquisadores estão de acordo com as normas éticas estabelecidas. Vale ressaltar, como já dito, que os próprios corpos são doados pelos próprios falecidos que estão interessados em contribuir com a ciência e com a Justiça, o que pode ser visto como um último ato de nobreza. Além de contribuir significativamente para a ciência forense, as Fazendas de Corpos também desempenham um papel importante na formação de profissionais, como antropólogos forenses, médicos legistas, e agentes da lei, proporcionando-lhes uma experiência prática e fundamental para seu trabalho.

Caso haja interesse em visitar uma Fazenda de Corpos, como a do Tennessee, temos uma péssima notícia: visitas públicas não são permitidas. Em raras ocasiões, grupos específicos, como jornalistas ou cineastas documentaristas, podem obter permissão para visitas limitadas, mas isso é a exceção e requer aprovação especial. Isto ocorre pelo fato de se tratar de um laboratório de pesquisa sério e, portanto, não ser um ambiente apropriado para turismo. Além disso, é necessário respeitar a integridade e a memória dos doadores. Dentro da ética médica e antropológica, é importante entender que um corpo, outrora, foi uma pessoa que teve uma vida com sentimentos, frustrações e tudo que um ser humano passa durante sua passagem no mundo.

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