Tome muito cuidado com o Longlegs

Todos os anos, após exibições de festivais e de críticas, por volta da metade do ano surgem alguns candidatos a “melhor filme de terror do anos”. “Longlegs”, dirigido por Osgood Perkins, é um desses candidatos. No longa, acompanhamos a detetive do FBI Lee Harker, que possui alguns dons sobrenaturais, na caçada a um serial killer conhecido como Longlegs.

Eu não gosto muito da discussão sobre gêneros. Muitas pessoas tentam desprender os filmes de seus gêneros por eles não conterem muito dos clichês já conhecidos. Mas aqui é importante frisar, “Longlegs” é um suspense, muito mais próximo de longas como “Silêncio dos Inocentes”, com fortes elementos de terror, dentro dos conceitos apresentados. Isso quer dizer que não estamos diante de um filme que se preocupa com jump scaries, ou criaturas demoníacas e fantasmas bizarro, mas sim que procura o terror dentro dos fatos como: a sensação de ser perseguido por um maníaco; ou o clima soturno e melancólico de se envolver tão intimamente com tragédias.

A grande parte do mérito de “Longlegs” está em seu elenco. A detetive Lee Harker, interpretada por Maika Monroe, é uma personagem extremamente complexa e, mesmo sem falar nada, percebemos que passa por uma solidão marcada tanto por traumas quanto pela sua investigação, sendo que precisa ficar alerta, raciocinar e agir rápido antes que mais vítimas surgem.

A interpretação de Monroe é sutil ao ponto de não precisarmos de diálogos expositivos para entendermos tanta nuances. A atriz que fez trabalhos igualmente ótimos em “Corrente do Mal” e “O Observador” está se especializando em personagens introspectivos, tanto que com seu olhar consegue passar toda a profundidade que Harker carrega.

O outro destaque do elenco é Nicholas Cage como o assassino Longlegs.

E aqui cabe um comentário sobre o marketing: em nenhum momento o personagem de Cage aparece nos trailer ou pôsteres do filme, fazendo a gente saber que ele está no elenco somente nos créditos ao final do trailer. Essa decisão parece um acordo entre a distribuidora Neon e o direto Osgood Perkins, pois Perkins ao parecer saber do monstro que tinha em mãos define cada aparição de Cage com peso e de maneira que carrega a trama.

A maquiagem do ator é tão bizarra que fica entre o assustador e o mal feito, nos colocando no vale da estranheza, e junto com sua risada e atuação corporal faz do personagem um jump scarie ambulante, sem precisar de mais nada além da presença. Não à toa, logo na introdução temos uma situação que envolve ele e uma criança, onde um simples diálogo e uma risada já bastam para criar o impacto necessário para desconforto.

Falando na direção, Perkins toma uma decisão que enaltece o aspecto solitário da personagem Lee Harker, as cenas possuem um ângulo extremamente próximo da personagem, de qualquer que for o centro da cena na verdade, é junto com a fotografia limpa, essa combinação sempre mostra que a algo errado no ar. Esse modo nada comum de filmar alguém, destaque o personagem do resto da cena, o deixando isolado, fazendo dessa uma jornada solitária.

Em meio em tanta coisa para se destacar e perceber, ao chegar ao final o filme comete alguns erros. Ao desacelerar o ritmo Perkins assume que na verdade a história sempre foi mais sobre Harker do que Longlegs. Uma pena que ao expor isso, ele deixa de lado a estética do terror e foca em contar o resto da história em uma espécie de clima noir.

Mesmo com problemas para se encontrar no ato final, “Longlegs” conta com uma trama, envolvente, bizarra, com simbolismos macabros e um vilão com suas próprias regras, algo que te deixa intrigado desde o início. Sem dúvidas em longa que vai ficar marcado seja por ser o “terror do ano” ou pela narrativa, e por criar um ambiente e um universo que te faz querer ver mais dessa obra.

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