Conheça a origem do Jack Lanterna, a abóbora de Halloween

Esta imagem dispensa apresentações: um sorriso esculpido em uma abóbora com uma vela dentro. Jack Lanterna, o símbolo universal do Halloween, uma das épocas mais aguardadas pelos góticos e trevosos fãs de terror e horror. E as lendas envolvendo a origem desta figura são, no mínimo, interessantes principalmente para quem gosta de histórias de terror.

A lenda do plantador de nabos

Tudo começou na Irlanda, séculos atrás, com um homem chamado Jack. Ele era um plantador de nabos e tinha um caráter desprezível. Jack era agressivo com a família e incomodava donos de botecos. Aliás, este era outro traço grotesco de sua personalidade: seu alcoolismo.

Uma noite, Jack começou a beber em um bar, mas não pagou o que devia para o dono. Enfurecido, o homem ameaçou Jack e disse que não iria dar mais nenhuma dose enquanto não fosse pago o valor devido. Porém, o temperamento do plantador de nabos fez com que o agricultor retrucasse o dono do bar com a seguinte frase:

– Eu vou continuar bebendo nem que eu tenha que vender minha alma para o diabo!

O que ninguém sabia é que o próprio tinhoso estava por perto, acompanhando toda a situação. Vendo uma excelente oportunidade de levar mais uma alma para o inferno, ele se revelou no meio do bar para todos os presentes. Porém, apenas um o interessava: Jack.

– Então você quer continuar bebendo nem que tenha que vender a alma para mim? Isso me parece uma troca justa. Temos um acordo?

Jack, vendo que tinha em mãos a chance de continuar enchendo a cara, apertou a mão diabo.

Assim, o próprio diabo tirou uma garrafa de bebida do bolso e encheu o caneco de Jack, que entornou tudo em um só gole. Com um sorriso maligno no rosto, o cão continuou servindo para que o agricultor seguisse bebendo. Eles seguiram assim até que a garrafa secasse.

– Pois bem, meu caro. Você vendeu sua alma para que continuasse bebendo. Agora, você terá que vir comigo.

Jack, que estava bêbado, mas não idiota, se assustou com o anúncio do diabo. Ele saiu correndo do bar rumo a um bosque próximo. Com uma gargalhada sinistra e achando tudo aquilo engraçado, o próprio demônio entrou no jogo de Jack e o seguiu noite a dentro. Cansado de tanto correr, o homem teve a ideia de subir em uma árvore.

– Você não irá fugir de mim para sempre, Jack! – disse o diabo.

– Então venha me buscar aqui em cima! – retrucou Jack.

– Pois eu vou mesmo!

O demônio começou a subir na árvore, tal como faria uma serpente. Quando estava próximo de encostar em Jack, o homem saltou em direção ao chão. Com a dor da queda sendo disfarçada pela embriaguez, o plantador de nabos tirou um canivete do bolso e desenhou uma cruz no tronco da árvore, impedindo o diabo de descer.

– O que você fez, seu bêbado maldito? Você tem noção do que acabou de fazer?

– Você nunca mais descerá desta árvore para me pegar!

– Beberrão trapaceiro! Eu vou cuidar para que seja cozinhado em fogo baixo quando estiver comigo no inferno!

– Eu vou fazer um novo trato com você: se você renunciar minha alma, eu apago esta cruz e você será livre para voltar para o inferno.

Jack não percebeu, mas o diabo esboçou um sorriso sádico enquanto ouvia as palavras do embusteiro. Balançando a cabeça suavemente, o tinhoso concordou.

– Eu aceito seus termos, beberrão. Você nunca irá para o inferno. Agora me deixe sair daqui.

Satisfeito, Jack riscou a cruz do tronco da árvore e o diabo desceu. Em seguida, o demônio desapareceu em uma nuvem fétida nuvem de fumaça. Por fim, crendo que havia levado a vantagem, Jack voltou para casa cantarolando.

Os anos se passaram e Jack levou sua vida como sempre levou, não mudando nenhum pouco nem quando estava em seu leito de morte. Na verdade, ele estava até pior agora que tinha “enganado” o próprio diabo. Porém, no fim, suas únicas companhias eram uma garrafa meio-cheia e um único nabo que havia sobrado de suas plantações.

Quando já havia sentido o beijo da morte tocar seus lábios, Jack se viu vagando em direção de uma bela luz até chegar aos portões do céu. Porém, São Pedro montava guarda e negou sua passagem devido a vida de pecados e crimes. Jack até tentou barganhar, mas o Primeiro Papa nunca seria enganado como qualquer outro que o plantador de nabos havia passado a perna.

Ao se conformar com isso, Jack deu meia volta e caminhou em direção ao inferno. Quando chegou na mesma entrada que Dante outrora viu, o diabo em pessoa o aguardava.

– Creio que este seja meu local de tormento eterno – lamentou Jack.

Com uma risada sinistra, o demônio também lhe negou passagem.

– Você fez um trato comigo e eu mantenho todos os meus acordos, beberrão trapaceiro.

– O que quer dizer?

– Eu prometi que o inferno não seria sua eterna morada e nunca será. Aqui você nunca irá entrar.

– Mas então para onde eu irei?

– Para lugar nenhum. A escuridão eterna do limbo entre o céu e o inferno irá lhe acompanhar por toda eternidade.

Assim, o diabo deu as costas e adentrou o orco. Mas antes, com a mesma piedade que se teria com um indigente, ele jogou em direção de Jack um carvão em brasa para que tivesse alguma mínima fonte de luz em sua eternidade. O beberrão agarrou, mas logo soltou por não conseguir mantê-lo nas mãos sem se queimar. Assim, ele pegou o último nabo que havia lhe sobrado e fez um buraco para colocar o carvão. Em seguida, ele fez três outros buracos menores, como se fosse um rosto sorridente, para que a luz pudesse sair e iluminar o nada eterno que veria para sempre.

Desde então, as crianças esculpem rostos assustadores em nabos para colocar em suas janelas na época do Halloween para afastar os maus espíritos.

E quanto a abóbora?

Uma dúvida deve estar pairando no ar agora: “ora, se a lenda original fala de um nabo, onde entram as abóboras nisso tudo?”.

Acontece que os imigrantes irlandeses, ao chegar nos Estados Unidos, não tinham acesso fácil a nabos, pois era difícil de cultivar no solo norte-americano. Porém, abóboras eram mais fáceis e abundantes, então aos poucos o costume foi sendo modificado. No entanto, até hoje é possível encontrar nabos esculpidos com rostos em regiões irlandesas.

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