Dentre as pessoas que marcaram a história da Segunda Guerra Mundial, certamente existem alguns medalhões que vêm à cabeça de todo mundo. Porém, poucos se lembram dos coadjuvantes do conflito que foram tão ou mais importantes do que os próprios protagonistas. Alguns deles desvendaram códigos, elaboraram estratégias de batalha ou desenvolveram armas que mudaram os rumos da guerra e da história. Além disso, também existiam os coadjuvantes cuja importância até se confunde com a de alguns protagonistas a ponto de não se saber se eles próprios iriam tão longe sem ajuda. Este é um exemplo da relação entre Adolph Hitler e seu propagandista, Joseph Goebbels.
Talvez, em uma primeira leitura, este nome não diga muita coisa para a maioria das pessoas. Porém, uma de suas principais ideias está na boca de muitos políticos e militantes que têm algum espaço na mídia. “Uma mentira dita mil vezes se torna uma verdade.” Esta é uma das frases atribuídas ao Ministro da Propaganda da Alemanha nazista mais famosas e que costuma ser repetida ou seguida dentro da guerra cultural. De qualquer forma, a observação de Goebbels com relação a este fato é um fato indiscutível.
Dentre todos os horrores que a Alemanha nazista apresentou ao mundo, um dos mais terríveis foi sua eficiente e macabra máquina de propaganda. E nada disso seria possível sem a mente perversa (e brilhante) de Goebbels. Sua contribuição para o campo da mídia e comunicação foi tão grande que até hoje seu nome é citado em cursos de Publicidade e Propaganda e Jornalismo. Deste modo, a contragosto, todos são obrigados a aceitar que apesar de sua história ao lado de um dos regimes mais genocidas da história, suas inovações técnicas para se comunicar com o povo foram notáveis.
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Pé deformado, fervor ideológico e esposa traída
Paul Joseph Goebbels nasceu no dia 29 de outubro de 1897 em Rheydt, Alemanha, no seio de uma humilde família católica. Ele tinha aspirações militares, mas foi rejeitado pelo Exército devido a uma deformidade no pé direito. Sendo assim, ele seguiu uma carreira acadêmica e obteve doutorado em Filosofia. Goebbels se aproximou da política após o fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e, e 1924, se juntou ao Partido Nazista. Ele rapidamente ascendeu na hierarquia, tornando-se um dos mais fiéis colaboradores de Hitler.
A dedicação ao nazismo ofuscou grande parte de sua vida pessoal, transformando-a em uma extensão de sua ideologia radical e de sua relação com Hitler. Fora da carreira política, Joseph Goebbels teve uma vida pessoal marcada por eventos conturbados. Ele se casou com Magda Quandt em 1931, com quem teve seis filhos. No entanto, o casamento passou por diversas crises, muitas delas devido aos casos extraconjugais de Goebbels. Além disso, o casal era próximo de Hitler e Magda se tornou uma figura admirada dentro do círculo nazista.
A devoção de Goebbels a Hitler influenciou sua vida familiar. Em seus diários, Goebbels descrevia suas frustrações e sentimentos pessoais, tanto sobre suas dificuldades matrimoniais quanto sobre seu fervor ideológico. Apesar dessas crises pessoais, o casal permaneceu unido até o final da guerra, e juntos decidiram se suicidar no Führerbunker no dia 1º de maio de 1945, envenenando seus filhos antes de tirarem suas próprias vidas.
Ao contrário do que muitos afirmam, Adolf Hitler não tinha Joseph Goebbels como seu sucessor preferido. Em seu testamento político, redigido pouco antes de sua morte, Hitler nomeou Karl Dönitz como presidente do Terceiro Reich, sendo que Goebbels seria nomeado como chanceler. Contudo, a posição de Goebbels como chanceler foi meramente simbólica. Hitler via Goebbels como indispensável no papel de ministro da Propaganda, mas não o via como líder político adequado para conduzir o regime após sua morte.
Transformando comícios em shows
Em 1933, Joseph Goebbels foi nomeado Ministro da Propaganda e, nesse cargo, ele controlava os meios de comunicação, assegurando que apenas a narrativa nazista fosse propagada. Desta forma, ele foi uma das figuras centrais na disseminação do antissemitismo, do culto à personalidade de Hitler e na mobilização de apoio ao regime. Uma de suas táticas consistia em transformar eventos, como os comícios de Nuremberg, em grandes shows de propaganda – algo que partidos políticos de todos os espectros seguem fazendo ao redor do mundo.
Goebbels era conhecido por sua grande habilidade em discursos inflamados e pela manipulação psicológica de massas através da mídia. Ele foi um dos pioneiros no uso de tecnologias emergentes, como rádio, cinema e da televisão para propaganda política. Além disso, ele também acreditava no uso intensivo de mentiras repetidas para influenciar a opinião pública, o que ficou conhecido como “a grande mentira” – o que, de certa forma, deu certo para os fins de propaganda naquele contexto. Ao longo da Segunda Guerra Mundial, ele se manteve firme em suas funções como propagandista, mesmo quando a derrota alemã se tornou iminente.
Outro ponto que Goebbels foi pioneiro foi no uso de técnicas de edição de vídeo a fim de manipular informações com objetivos de propaganda política. Desta forma, com tal construção, a mensagem nazista era transmitida de forma convincente. Tais técnicas ainda são estudadas em cursos de comunicação.
Um legado sombrio
Goebbels é lembrado até hoje como o arquiteto da propaganda nazista e um dos maiores propagandistas da história, cujas táticas influenciaram estratégias de comunicação política até hoje. Seus métodos de propaganda foram baseados em técnicas de manipulação emocional, repetição de mensagens e criação de inimigos comuns, como os judeus.
Goebbels ajudou a desenvolver o uso da propaganda em massa para moldar opiniões públicas, criar cultos de personalidade e justificar ações políticas extremas. Tanto regimes totalitários quanto democráticos do século XX e da atualidade utilizam das lições deixados pelo homem que fez Hitler ser quem ele foi. Seus métodos influenciaram estratégias modernas de propaganda, principalmente em regimes autoritários, mas também em campanhas políticas, onde o controle de narrativas e a persuasão emocional continuam a ser usados para moldar a percepção pública.