Maníaco do Parque: um filme covarde e medroso

De uns tempos para cá se tornou muito popular no Brasil, e na cultura pop explorar, histórias reais de crimes macabros.

Os chamados True Crime se estendem por livros, podcasts, séries e filmes. É claro que é necessário um cuidado ao contar essas histórias, tanto em respeito às vítimas como também para não “glamourizar” nenhum crime. Documentários têm a desculpa do caráter informativo e filmes dramatizações precisam encontrar o equilíbrio e saber lidar com um tema tão sensível.

No entanto, poucas obras são tão covardes quando “Maníaco do Parque”.

Lançamento de outubro no catálogo do Prime Vídeo, o longa de Maurício Eça sobre o serial killer brasileiro que fazia suas vítimas em São Paulo, e era conhecido como Chico Estrela por patinar no Parque Ibirapuera, cai em uma vertente de didatismo que é chata e constrangedora.

Didatismo esse que constantemente exposto de maneira nada sutil. Uma personagem que é irmã da protagonista é psicóloga, e essa personagem está no filme para falar em bom tom como funciona a mente de um psicopata. Tal pauta é bem importante para esse tipo de projeto, mas se trabalhada melhor do que uma pessoa servindo constantemente como um Google humano, perdendo a oportunidade de mostrar isso em ações do que em palavras.

Falando em protagonista, querendo levantar essa ideia de “educar” o público e ao mesmo tempo não tendo coragem o suficiente de tornar o Maníaco protagonista de sua própria história, o foco aqui é uma jornalista chamada Helena. Em filmes baseados em histórias reais, é comum que o roteirista opte por criar personagens para representar uma parte mais ampla de uma maneira mais simplificada. A escolha aqui foi fazer da Helena a representa da imprensa nessa história toda, não só isso mas também o filme ser focada nela, traça um paralelo entre ela como mulher, e as vítimas do serial killer, que eram todas mulheres.

Trazer um olhar feminino e fazer uma personagem que tem sua ascensão profissional interrompida diversas vezes por causa do machismo no ambiente do trabalho, traria então, uma luz nova sobre o caso e o refresco que faria as pessoas levantarem novas discussões, fazendo assim ele não ser esquecido. Uma pena que, tal ato que seria, basicamente, um serviço de interesse público cai por terra.

É óbvio falar isso, mas o diretor Maurício Eça e o roteirista L.G. Bayão, parecem não entender muito bem os obstáculos machistas que uma jovem jornalista na época poderia enfrentar. Afinal de contas, Helena, constantemente, comete erros que, pessoas como eu, que ao menos frequentaram a faculdade de jornalismo, sabem que seriam imperdoáveis, como escrever uma matéria sem saber o motivo do fato que está escrevendo, mentir para suas fontes e não tirar fotos dos rostos das vítimas como sinal de respeito (o certo seria tirar a foto e borrar o rosto depois), prática  já executada nos anos 1990, época que o longa se passa.

Um único grande mérito que vale a pena ressaltar é o desempenho do ator Silvero Pereira como Maníaco do Parque. Pereira traz trejeitos lábia e até mesmo pequenos tiques, fruto de um aparente trabalho de pesquisa do ator, que infelizmente foi ofuscado pela decisão de não ser o foco do filme.

Mauricio Eça também dirigiu os longas baseados em Suzane Von Richtofen. Ao contar a história da jovem rica que mandou assassinar seus pais, por não aprovarem seu relacionamento, Eça decidiu fazer uma trilogia. Em “A menina que matou os pais” e “O menino que matou meus pais”, é mostrando dois pontos de vista, tanto de Suzane quanto seu namorado, Daniel. Essa decisão, de fazer dois filmes com cada versão olhando de longe parece interessante, mas na verdade apenas demonstra uma narrativa em cima do muro sem visão artística alguma e nada que contribua.

Já no terceiro longa, “A menina que matou os pais: a confissão”, a coisa parecia que ia engrenar. Porém apenas apresenta mais do mesmo ao tentar mostrar o lado da investigação e da captura dos jovens. Eça, assim como na trilogia de Suzane Von Richtofen, adota em “Maníaco do Parque” uma narrativa covarde, com medo de tomar partido e com uma tentativa de reparação histórica que beira o cômico. Com um didatismo sem pé nem cabeça, uma protagonista sem sal e um roteiro preguiçosa, nos tornamos mais uma vítima desse maníaco.

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