Casos emblemáticos de assassinatos em série são escandalosos por natureza. Às vezes, a notoriedade de um criminoso do tipo vem devido sua crueldade, frieza ou então outros fatores que não necessariamente relacionados ao crime, como carisma ou inteligência. O número de vítimas também costuma assustar, mas varia bastante. Pode ser relativamente baixo, como Ed Gein (duas mortes confirmadas) ou alto, como John Wayne Gacy (ao menos 33 vítimas).
Contudo, estes números ainda se tornam baixos quando tomamos conhecimento do maior assassino em série que se tem notícias nos Estados Unidos. Samuel Little (1940-2020) foi considerado pelo FBI como o mais prolífico matador serial do país, sendo que foram confirmadas ao menos 60 vítimas. Contudo, de acordo com o próprio criminoso, este número teria chegado a 93 no total. Ele também foi o assassino em série que passou mais tempo sem ser pego.
Infância conturbada e violenta
Apesar de ser comprovadamente o maior assassino em série dos Estados Unidos, pouco se sabe a respeito de sua vida pessoal e muito do que se sabe é através das entrevistas que ele deu na prisão. Samuel Little nasceu em 1940 na Geórgia, nos Estados Unidos, e teve uma infância marcada por instabilidade e violência. Ele alegava que sua mãe era uma prostituta de 16 anos e muito provavelmente nasceu em uma prisão. Assim, ele teria sido criado por sua avó em Ohio. Durante sua juventude, Little enfrentou problemas legais e acabou desenvolvendo uma longa trajetória de criminalidade, incluindo roubo e assaltos, levando-o a prisões frequentes.
Apesar do sobrenome “pequeno”, na prática ele era o inverso disso. Ele foi pugilista na juventude, sendo que começou a lutar boxe enquanto estava preso por pequenos crimes. Como boxeador amador, ele tinha grande força física e usava suas mãos para dominar suas vítimas. E isso lhe deu uma vantagem considerável, na qual utilizou em sua vida criminosa. Seus métodos consistiam em usar golpes de boxe para nocautear suas vítimas rapidamente. Em seguida, ainda com as próprias mãos, ele as estrangulava com “tranquilidade”, uma vez que elas não reagiam.
É presumido que isso dificultou o trabalho das autoridades em correlacionar os crimes cometidos por Little, uma vez que o trabalho desleixado da perícia não apontou com precisão as causas da morte, que muitas vezes eram atribuídas à overdoses. Outro fator decisivo para seu “sucesso” foi o fato de que ele vivia uma vida itinerante, mudando de cidade em cidade nos Estados Unidos, o que dificultou a conexão entre seus crimes ao longo de décadas.
É válido destacar que Samuel Little foi preso diversas vezes ao longo de sua vida, principalmente por furto, assalto, invasão de domicílio, tentativa de estupro, agressão a policiais e direção embriagada. Ele chegou a se casar, no início dos anos 1970, com uma mulher até 30 anos mais velha que chegou a ser sua parceria em crimes.
Vitimologia
As vítimas de Samuel Little foram majoritariamente mulheres vulneráveis, incluindo prostitutas e em situação de rua. Muitas vezes negras, ele escolhia por acreditar que seriam menos notadas pelas autoridades e pela sociedade – o que, de certa forma, ele estava certo. Ele mesmo admitia que se tivesse matado uma única “jovem de um bairro de brancos”, ele poderia ter sido pego.
Seu modus operandi era semelhante em todos os casos. Ele se aproximava das vítimas, conquistava a confiança delas, e depois propunha um encontro íntimo para usar drogas ou fazer sexo. Assim, ele nocauteava as vítimas e depois as estrangulava, sendo que nunca usou armas em seus assassinatos.
Little atacava em diversas cidades dos Estados Unidos e a maioria de suas vítimas foram encontradas mortas por estrangulamento, um ato que ele considerava prazeroso e acabou se tornando sua “assinatura”. Little confessou ter matado suas 93 mulheres entre 1970 e 2005. Contudo, o FBI conseguiu confirmar cerca de 60 dessas mortes, tornando-o mais prolíficos assassinos em série da história americana.
Tudo isso foi descoberto após a condução de entrevistas e conversas com Little após as condenações à prisão perpétua. Isso dificultou o trabalho dos psicólogos forenses, pois ele “não tinha nada a ganhar” com aquilo. Após várias sessões, se aproximando cada vez mais dele, a equipe conseguiu conquistar a confiança dele ao ponto de ele confessar os três assassinatos que ele foi condenado – no julgamento, tinha se declarado inocente.
Ao mostrarem mapas e fotos de alguns locais onde algumas vítimas haviam sido encontradas entre 1970 e 2005, a memória de Little se mostrou precisa. Ele chegou a fazer desenhos de suas vítimas, que acabaram sendo divulgadas pelo próprio FBI na tentativa de identificar as vítimas.
O fim de tudo
Samuel Little acabou sendo preso em 2012 por acusações de posse de drogas em um abrigo para desabrigados em Kentucky, isto quando já estava com mais de 70 anos. Após sua prisão, a polícia comparou seu DNA com evidências de cenas de crimes não resolvidos, levando à ligação com três assassinatos não resolvidos entre 1987 e 1989 em Los Angeles – todas mortas por estrangulamento enquanto estavam tendo relações sexuais.
Em 2014, Little foi condenado por esses três assassinatos e recebeu três sentenças de prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional. Samuel Little permaneceu preso até sua morte em dezembro de 2020 aos 80 anos.