Entenda os efeitos do veneno de cobra no corpo humano

Vários animais fazem parte da cultura de diferentes povos pelos mais diversos motivos. Porém, um deles costuma ser frequente em vários deles. Desde os povos indígenas até a cultura abraâmica, as cobras são vistas como uma representação maligna na imaginação humana.

Diferentes teorias tentam explicar o porquê de um mesmo animal ter a mesma conotação negativa em diferentes tradições que muitas vezes nunca tiveram qualquer contato. A mais aceita é que essa relação veio ainda do período paleolítico, quando precisávamos nos abrigar em árvores para fugir de predadores. Nesta situação, a pior coisa seria encontrar uma serpente altamente venenosa em um galho pronta para dar o bote.

Existem diferentes tipos de serpentes no mundo. E como há uma variedade abundante de espécies, é natural que também existam variados tipos de venenos de cada uma. Por isso que, até um tempo atrás, era muito importante saber qual foi a cobra que picou o paciente. Porém, os soros antiofídicos modernos servem como um “coquetel” para as mais diferentes variedades de peçonha.

Porém, quais são os efeitos do veneno de uma cobra no corpo humano? Sabemos que ele pode ser fatal, mas de que forma? É isso que vamos explicar nesta matéria.

Animais peçonhentos x animais venenosos

Apesar de serem usados como sinônimos, existe uma diferença considerável entre um animal venenoso e um peçonhento. Ambos produzem toxinas em seus corpos, mas a finalidade é bem diferente.

Animais peçonhentos são aqueles que possuem algum tipo de mecanismo corporal capaz de, ativamente, injetar sua toxina em seu alvo. Geralmente contam com armas naturais como presas, ferrões e esporões com essa finalidade. Exemplo de animais desse tipo são as cobras, escorpiões e aranhas. Além disso, suas finalidades são mais “ofensivas”, visando a incapacitação de presas e atuando como uma espécie de “arma”.

Por outro lado, os animais venenosos não possuem qualquer tipo de forma de inoculação de sua toxina tal como suas contrapartes. Assim, sua toxina é produzida em seus corpos e são expelidas talvez da pele ou sangue. Exemplo de animais desse tipo são as rãs. Assim, sua toxina tem uma finalidade “defensiva” contra predadores que podem acabar sofrendo as consequências caso ataquem.

Um fato curioso sobre as cobras, em particular, é que quanto mais jovem, mais perigosa é sua toxina. Isso ocorre devido ao que os biólogos chamam de “imaturidade da peçonha”, uma vez que o próprio organismo do animal calibra sua peçonha para ser mais letal para suas presas. Isto é: se a cobra come ratos, então o conteúdo de seu veneno vai se adequar para ser mais letal justamente para esse tipo de presa. Enquanto isso, um exemplar mais jovem tem uma toxina pronta para “todo tipo de presa” e por isso tende a ser mais perigosa – inclusive para seres humanos.

Após o bote

De forma geral, as serpentes podem ser classificadas em três tipos principais quanto à sua dentição. Existem as que não apresentam presas injetoras de veneno (jiboia e sucuri), as que apresentam presas injetoras de veneno na parte traseira da boca (muçurana, cobra-cipó e falsa-coral) e as que apresentam presas injetoras de veneno na parte frontal da boca.

Estas últimas são classificadas em duas categorias: as proteróglifas, que possuem uma mandíbula menor e bote menos poderoso (coral-verdadeira e naja) e as solenóglifas, que possuem um bote veloz e longos dentes e boca na hora de aplicar a peçonha (cascavel, jararaca e surucucu).

De acordo com a sua composição química e efeitos na vítima, o veneno das serpentes pode ser classificado em quatro tipos principais: Citotóxico, Hemotóxico, Miotóxico e Neurotóxico. Cada espécie possuí um veneno específico e, mesmo dentro da mesma espécie, podem existir variações à sua concentração, composição e potência. Para mais, algumas espécies apresentam uma espécie de combinação destas três classes de veneno, em que embora um seja mais concentrado.

  • O veneno citotóxico afeta diretamente as células e tecidos, podendo causar necroses. Provoca dor intensa e inchaço na área afetada, podendo levar à destruição dos músculos e até à necessidade de amputação, em casos graves. Muitas espécies de víboras, como a víbora-sopradora, possuem venenos citotóxicos.
  • O hemotóxico afeta a capacidade coagulatória e pode causar hemorragias internas e danos nos tecidos, além de coágulos sanguíneos. Também pode gerar falência de órgãos devido à interrupção do fluxo sanguíneo adequado. As cascavéis e as víboras são conhecidas por produzir venenos com efeitos hemotóxicos.
  • O neurotóxico afeta o sistema nervoso central, cortando a comunicação entre nervos e músculos, o que em casos graves e sem tratamento médico imediato acabam por afetar a capacidade respiratória. Também pode causar paralisia. Mambas e algumas espécies de cobras marinhas produzem venenos neurotóxicos.
  • Por fim, o veneno miotóxico afeta diretamente as células musculares, causando sua destruição. Como resultado, a pessoa tem uma dor muscular intensa e pode levar à liberação de mioglobina (proteína muscular) na corrente sanguínea, o que pode sobrecarregar os rins e causar insuficiência renal. Algumas cobras marinhas possuem venenos com efeitos miotóxicos.

Primeiros socorros

Independente da cobra, caso venha a acontecer algum acidente com esses animais, existem algumas coisas a serem feitas. Primeiramente é importante se afastar da serpente, manter a calma e evitar movimentos desnecessários para evitar que o veneno se espalhe pelo corpo. Mantenha a parte do corpo picada (braço, perna) abaixo do nível do coração para reduzir a velocidade com que o veneno se espalha. Lave levemente o local da picada com água e sabão, mas não esfregue. Isso pode ajudar a evitar infecções, mas não deve atrasar o atendimento médico.

Importante não fazer torniquetes, cortes na pele, sucção ou garrotes, pois são perigosos e podem piorar a situação, aumentando a chance de infecção ou danos aos tecidos. Gelo, álcool e outras substâncias caseiras podem piorar o ferimento e causar complicações.

Em seguida, vá imediatamente para o hospital ou ligue para serviços de emergência. O antiveneno específico é a única forma eficaz de neutralizar o veneno. Caso tenha visto a cobra, descreva seu tamanho, cor e formato para os profissionais de saúde, pois isso pode ajudar na escolha do antidoto adequado.

No Brasil e no mundo

O Brasil registra cerca de 30 a 40 mil acidentes com serpentes por ano, de acordo com dados do Ministério da Saúde. A maioria desses casos ocorre nas regiões Norte e Nordeste, onde há uma maior incidência de serpentes peçonhentas, como jararacas, cascavéis, surucucus e corais. As jararacas são responsáveis por cerca de 90% das picadas no país e a taxa de mortalidade varia, mas costuma ser relativamente baixa (cerca de 0,5%), devido à disponibilidade de tratamento e antivenenos.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que entre 1,8 e 2,7 milhões de pessoas são picadas por serpentes a cada ano no mundo. Entre 81 mil e 138 mil mortes ocorrem globalmente por ano em decorrência dessas picadas. Aproximadamente 400 mil pessoas ficam com sequelas permanentes, como amputações ou disfunções de órgãos, em consequência da picada de cobra. As regiões mais afetadas são a Ásia (principalmente Índia, Bangladesh e Sudeste Asiático), a África subsaariana e a América Latina.

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