Após nos entregar em 2024 o marcante “Longlegs”, Osgood Perkins lança, menos de um ano depois, “O Macaco”. Dessa vez uma obra inspirada no conto do autor Stephen King, Perkins caminha em novos ares, misturando terror e comédia. Na trama, acompanhamos dois irmãos gêmeos, Bill e Hal, que ao mexer nos pertences de seu pai encontram um brinquedo de um macaco de corda, toda que dão corda no macaco e ele bate em seu tambor, alguém morre.
Apesar de, dessa vez, Osgood Perkins trazer uma visão mais cômica para sua obra, algo não muito comum em seus outros trabalhos em que roteirizou e dirigiu, o longa contém suas melhores qualidades. A direção das cenas tem um ar mais lúdico, com uma paleta de cores mais fosca e optando muitas vezes pelo silêncio para criar tensão. Mas o ponto alto mesmo foi a habilidade de Perkins de tornar a figura do brinquedo assustadora sem extrapolar demais.
Muitas cenas usam o macaquinho nas sombras, exaltando suas características como, os olhos brilhantes e o sorriso estático para criar a tensão. Existem também algumas sequências de sonhos e alucinações, o que permite trazer uma versão mais exagerada sem se distanciar da proposta do longa.

Infelizmente o mesmo não pode ser dito do roteiro. Ao trazer um tom cômico para a trama, Perkins se permite exagerar ainda mais nas cenas de morte, porém não encontra o equilíbrio necessário para conciliar os dois gêneros. O senso de humor imprimido no roteiro, não funciona. Isso acontece pois não está na mesma medida que nas cenas de terror ou nas cenas de violência, muitas vezes por piadas sem graças ou até mesmo personagens caricatos que surgem e desaparecem sem mais nem menos.
Ao únicos momentos de inspiração no bom humor se dão pela edição. A montagem do longa se dá com cortes secos, no meio de falas ou para causar uma contradição entre as cenas, esses momentos são bons de verdade, mas são mais méritos da edição do que do roteiro.
Por falar no roteiro, fiquei na dúvida se elogiava ou não o ritmo do longa. Na cena inicial ele entrega tudo o que você pode esperar do restante da obra. Temos um diálogo entre dois personagens, no qual é exposta algumas regras do macaco. Os dois possuem características marcantes e caricatas, algo que vai se seguir no humor do restante do filme, a cena explica como o brinquedo funciona, que claro, é importante para o entendimento do objeto central da trama, e por fim, a cena finaliza com uma morte sangrenta.
E aqui encontramos o ponto alto. As cenas de morte são criativas. Podem lembrar um pouco as mortes de “Premonição”, afinal todas são como se fosse acidentes, mas Perkins vai escalonando o nível das mortes, ao ponto de ficarem mais absurdas conforme nos acostumamos com o tom do filme.
Sobre os personagens, pouco se tem a falar sem entrar em território de spoilers. Hal é o gêmeo bom e Bill o gêmeo mal, ambos passarem por situações traumáticas na infância, o que fez com o que se afastem de todos e de si mesmo. Tudo mundo quando o macaco volta a provocar mortes na antiga cidade dos dois.

O inicio do filme é uma longa introdução da infância dos irmãos, acompanhada de sua mãe, e de seus tios. Pouca coisa se salva nesse início, a narração constante do ator Theo James, que interpreta os dois gêmeos adultos, da uma sensação que o longa não começou, e isso se arrasta pelos 30 minutos iniciais, no mínimo.
Apesar do roteiro do Perkins não encontrar o equilíbrio necessário entre os dois gêneros, quando ele precisa fazer o que sabe, o filme eleva seu nível. O problema é que nem tão engraçado e nem tão assustador, o que se salva são as cenas de morte e de gore, onde o sangue escorre com gosto de maneiras criativas e malucas. Uma pena não ter na qualidade um atrativo maior e mais diferenciado, como seu longa anterior.
Perkins ao tentar sair de sua zona de conforto pode divertir alguns espectadores com suas cenas sangrentas. Mas a falta de domínio no lado da comédia torna “O Macaco” mais vazio e sem graça do que poderia ser.