Outrora Stephen King disse que a “ficção é a verdade dentro da mentira”. Essa é uma forma sucinta e muito sensível de descrever a relação que o ser humano tem com as narrativas, uma vez que essa afirmação é uma das mais precisas já ditas. A ficção é capaz, através de histórias inventadas, descrever todos os aspectos mais inerentes da humanidade. Desde nossas virtudes até as misérias.
Diante dessa realidade, um fenômeno inevitavelmente acaba entrando em evidência em obras ficcionais: genocídio. Se esse tipo de ato hediondo é passível de acontecer no mundo real, evidentemente que a ficção sendo “a verdade dentro da mentira” também representa esse tipo de coisa. Em algumas obras, devido ao tom e o gênero mais “leve”, o impacto desse tipo de crime não chega a ser sentido, sendo apenas muitas vezes usado como parâmetro para mostrar o tamanho do desafio que os protagonistas irão enfrentar.
A maioria dos personagens apresentados não acompanham os números precisos de quantas mortes foram causadas. Aliás, alguns são muito vagos. Contudo, conseguimos especular isso com base nas informações apresentadas em suas próprias histórias. Aqui vai uma lista dos maiores genocidas da ficção.
Sauron

Senhor Sombrio da Terra-Média, Sauron é o principal antagonista de O Senhor dos Anéis, criado por J.R.R. Tolkien. Originalmente um servo do maligno Morgoth, Sauron se tornou a maior ameaça do mundo após a queda de seu mestre. Ele forjou o Um Anel para controlar os outros Anéis de Poder e subjugar os povos livres da Terra-Média. Durante a Segunda Era, Sauron espalhou terror e destruição, conquistando vastas regiões e travando a Guerra da Última Aliança contra os exércitos de Elfos e Homens. Mesmo após perder seu corpo físico quando Isildur cortou o Anel de sua mão, ele sobreviveu como uma sombra maligna e retornou ao poder na Terceira Era.
As guerras provocadas por Sauron ao longo da história da Terra-Média resultaram em milhões de mortes. Durante a destruição de Númenor, ele foi responsável pelo colapso de uma civilização inteira, matando praticamente toda a população da ilha, estimada em centenas de milhares ou até milhões. Na Guerra da Última Aliança, legiões de Elfos e Homens pereceram ao enfrentar seu exército de Orcs e criaturas malignas. Na Terceira Era, a Guerra do Anel causou um número imenso de mortes, com batalhas como o Cerco de Gondor e a Batalha dos Campos de Pelennor ceifando a vida de dezenas de milhares de soldados, além da destruição de diversas cidades e vilarejos.
O impacto da tirania de Sauron não se limitou apenas às guerras, mas também à devastação de territórios inteiros. Mordor, sua fortaleza, era um deserto de cinzas e fogo, completamente inabitável para qualquer forma de vida natural. Suas influências malignas transformaram florestas e terras férteis em lugares sombrios e áridos, como aconteceu com a região de Minas Morgul e as colinas de Ephel Dúath. No final, sua queda trouxe alívio para a Terra-Média, mas os danos de seus atos genocidas marcaram a história do mundo criado por Tolkien para sempre.
E talvez tenha sido o personagem com menos mortes dessa lista…
Eren Yeager

Agora a contagem de mortes começa a esquentar. Nossa lista continua com um personagem que, em comparação com os próximos, não causou tantas mortes. Contudo, mesmo tendo causado menos destruição quando colocado em perspectiva com os outros, talvez o impacto na trama foi infinitamente superior.
Ao começar o “estrondo”, colocando milhares de titãs colossais para marchar sobre o mundo, Eren Yeager causou a maior destruição já registrada no universo de Shingeki no Kyojin. Se formos levar em consideração que a história se passa em um mundo semelhante ao nosso, mas aproximadamente na década de 1920, podemos assumir que aquele mundo tinha entorno de 2 bilhões de pessoas. Dessa forma, se formos partir do princípio que ele exterminou 80% da população mundial, chegamos à conclusão de que 1,8 bilhão de pessoas pereceram após o “estrondo”.
É assustador pensar nestes números, mas como já dito: são números baixos quando colocados em comparação outros, apesar de seu impacto na trama ter sido muito grande.
Sephiroth

Sendo o principal antagonista de Final Fantasy VII, Sephiroth é um dos vilões mais icônicos da história dos videogames. Originalmente, ele era um SOLDIER de elite da corporação Shinra e considerado o guerreiro mais poderoso de sua época. No entanto, ao descobrir que foi criado a partir das células da entidade alienígena Jenova, Sephiroth enlouqueceu e passou a acreditar que era destinado a governar o planeta. Em sua busca por poder absoluto, ele arquitetou um plano para invocar a magia Meteor e causar uma destruição em massa, absorvendo a energia vital do planeta para se tornar uma divindade.
Antes mesmo de tentar destruir o mundo, Sephiroth já havia cometido atos de genocídio. Durante sua queda na loucura, ele incendiou a vila de Nibelheim, matando quase todos os seus habitantes em um ataque brutal. O número exato de vítimas é incerto. Seu plano maior, porém, era muito mais devastador. Quando Meteor foi convocado, ele causou um impacto catastrófico em todo o planeta. A destruição de Midgar, uma das maiores cidades do mundo, resultou na morte de centenas de milhares, se não milhões, de pessoas.
Além disso, Sephiroth também é responsável pela morte de Aerith Gainsborough, um dos eventos mais marcantes e trágicos da história dos videogames. Seu assassinato foi pessoal e cruel, mas teve repercussões que impulsionaram os heróis a enfrentá-lo com ainda mais determinação. No final, apesar de todo o seu poder e das incontáveis mortes que causou, Sephiroth foi derrotado por Cloud e seus aliados. No entanto, sua ameaça persistiu em outras formas, como visto em Final Fantasy VII: Advent Children, mostrando que sua influência e legado de destruição ainda ecoam no mundo mesmo após sua derrota.
Darth Vader

Um dos vilões mais icônicos da cultura pop foi originalmente Anakin Skywalker, um Jedi prodígio treinado por Obi-Wan Kenobi. Seduzido pelo lado sombrio da Força e manipulador pelo Imperador Palpatine, ele se tornou um Lorde Sith e desempenhou um papel crucial na ascensão do Império Galáctico. Como executor do Imperador, Vader foi responsável por inúmeras mortes, incluindo a perseguição e extermínio dos Jedi durante a Ordem 66. Embora a ordem tenha sido executada principalmente pelos clones, Vader pessoalmente caçou e eliminou diversos Jedi sobreviventes nos anos seguintes, contribuindo para o quase total desaparecimento da Ordem Jedi.
Ao longo de sua jornada sombria, Darth Vader cometeu atos de extrema brutalidade, incluindo massacres em planetas inteiros. Um dos exemplos mais notórios foi a destruição de Alderaan, quando ele ordenou que a Estrela da Morte disparasse contra o planeta, resultando na morte instantânea de aproximadamente 2 bilhões de pessoas. Embora a ordem final tenha sido dada pelo Grand Moff Tarkin, Vader estava presente e permitiu que o genocídio ocorresse. Além disso, sua caçada incansável contra a Aliança Rebelde levou à morte de incontáveis soldados e civis ao longo dos anos de domínio imperial.
Mesmo com uma história marcada por destruição e assassinatos, Vader encontrou redenção nos momentos finais de sua vida. Ao ver seu filho, Luke Skywalker, sendo torturado por Palpatine, ele decidiu se voltar contra seu mestre e o matou, encerrando o reinado do Imperador e ajudando a salvar a galáxia. No entanto, o número total de mortes causadas por Darth Vader é incalculável, considerando suas ações como líder do Império e suas contribuições para a repressão brutal ao longo dos anos. Seu legado de terror e redenção faz dele um dos personagens mais complexos e memoráveis da ficção.
Frieza

Frieza é um dos vilões mais icônicos de Dragon Ball e é responsável por algumas das maiores atrocidades do universo da franquia. Como imperador tirânico do universo, ele domina e extermina civilizações inteiras sem hesitação. Seu ato mais infame foi a destruição do Planeta Vegeta, o lar dos Saiyajins, eliminando quase toda a raça guerreira em um único ataque. Estima-se que cerca de 10 bilhões de Saiyajins e outras espécies tenham sido mortos apenas nesse evento. Além disso, Frieza e seu exército dizimaram inúmeros planetas ao longo de sua campanha de conquista, exterminando incontáveis vidas em busca de lucro e domínio absoluto.
Durante a Saga de Namekusei, Frieza continua sua onda de terror ao assassinar brutalmente diversos habitantes do planeta, além de eliminar seus próprios subordinados sem remorso. Seu maior massacre nessa fase ocorre quando ele destrói Namekusei completamente, o que resulta na morte de quase 100 milhões de Namekuseijins e outras formas de vida do planeta. Mesmo após sua derrota para Goku, Frieza retorna em diferentes momentos da série para causar mais destruição, como na saga Dragon Ball Super, onde comanda a aniquilação de diversos planetas após ser revivido. Seu histórico de genocídios o coloca como um dos personagens mais letais da ficção, consolidando sua reputação como um dos maiores vilões de Dragon Ball.
Paul Atreides

Agora as coisas começam a ficar mais sérias nessa nossa lista. Paul Atreides, protagonista de Duna, de Frank Herbert, começa sua jornada como um jovem herdeiro da Casa Atreides e se transforma no messiânico Muad’Dib, líder dos Fremen e imperador da galáxia. Filho do Duque Leto Atreides e da Bene Gesserit Lady Jessica, Paul é treinado desde cedo em combate, estratégia e habilidades mentais superiores. No entanto, sua vida muda drasticamente quando sua família é traída pelo Barão Vladimir Harkonnen e pelo Imperador Padishah Shaddam IV, levando à queda da Casa Atreides em Arrakis. Fugindo para o deserto, ele se junta aos Fremen e começa a manifestar as habilidades de presciência concedidas pela especiaria Melange, o que fortalece sua posição como líder e messias esperado pelo povo do deserto.
A ascensão de Paul ao poder leva a um dos maiores genocídios da ficção científica. Após derrotar os Harkonnen e o imperador em Arrakis, ele assume o trono e desencadeia a Jihad Fremen, uma guerra sagrada que se espalha por toda a galáxia. Fanáticos seguidores de Paul levam seu nome às estrelas, conquistando sistemas e exterminando milhões que resistem à nova ordem imposta por ele. De acordo com sua própria visão, essa guerra provoca a morte de cerca de 61 bilhões de pessoas, além da devastação de incontáveis planetas. Paul percebe que essa destruição era inevitável desde o momento em que aceitou seu papel de messias e governante, mas, mesmo assim, não consegue impedir a maré de violência.
Apesar de seu poder absoluto, Paul se vê preso em um destino que ele mesmo tentou evitar. Ele sabia que, ao aceitar o papel de profeta, despertaria a devoção cega dos Fremen e os transformaria em uma máquina de guerra incontrolável. Em O Messias de Duna, a continuação da saga, Paul está amargurado pelas consequências de suas ações. Ele perde a visão, mas continua a governar através de sua presciência, até que finalmente se exila no deserto para escapar do fardo de seu império. Seu legado, no entanto, perdura: sua linhagem continua, e sua figura é reverenciada como um semideus por gerações.
A trajetória de Paul Atreides é uma das mais trágicas da ficção, pois ele começa como um jovem idealista e termina como um déspota involuntário. Embora tenha buscado vingança contra aqueles que destruíram sua família, suas ações levaram à morte de bilhões e à imposição de um império teocrático brutal. Seu arco reflete temas como destino, poder e as consequências inevitáveis das escolhas feitas por aqueles que buscam mudar o curso da história.
Darkseid

Sendo um dos vilões mais poderosos e temidos do universo da DC Comics, Darkseid governa o planeta Apokolips com punho de ferro. Sua busca incessante pela Equação Antivida e seu desejo de subjugar toda a existência o levaram a cometer atos de genocídio em escala cósmica. Como um tirano intergaláctico, ele já dizimou civilizações inteiras sem hesitação, erradicando incontáveis raças que se opuseram ao seu domínio. Sua crueldade e estratégia implacáveis fazem dele uma das maiores ameaças do multiverso.
Entre seus atos mais destrutivos, um dos mais notórios foi a destruição de Nova Gênese, o planeta rival de Apokolips. Durante seus confrontos com os Novos Deuses, Darkseid já foi responsável pela morte de bilhões de seres, incluindo muitos dos habitantes desse mundo. Além disso, em diversos eventos dos quadrinhos, ele liderou exércitos de Parademônios para conquistar planetas inteiros, como ocorreu em sua invasão à Terra. Na saga Final Crisis, Darkseid utiliza a Equação Antivida para controlar grande parte da humanidade, levando à extinção de bilhões de pessoas antes de ser derrotado.
Outra de suas atrocidades ocorreu na saga Great Darkness Saga, onde Darkseid consegue controlar poderosos seres cósmicos e extermina populações inteiras em sua tentativa de conquistar o universo no futuro da Legião dos Super-Heróis. Durante esse evento, estima-se que trilhões de vidas tenham sido perdidas em sua busca por domínio absoluto. Além disso, em versões alternativas, como em Justice League: The Snyder Cut, seu histórico de conquistas sugere que ele já exterminou incontáveis mundos ao longo dos milênios.
Darkseid não apenas mata por necessidade de guerra, mas também como um meio de demonstrar seu poder e erradicar qualquer resistência. Seu objetivo final é apagar a individualidade de todas as criaturas vivas, reduzindo a existência à sua vontade absoluta através da Equação Antivida. Isso faz dele um dos maiores genocidas da ficção, com um número de mortes estimado na casa dos trilhões – um número que continua a crescer conforme sua busca pela dominação total avança.
Thanos

Sendo um dos vilões mais icônicos da Marvel, Thanos é conhecido por seu imenso poder e desejo de alcançar um equilíbrio universal através da destruição em massa. No universo cinematográfico da Marvel (MCU), sua motivação principal era eliminar metade da vida no universo para evitar a escassez de recursos e o colapso da civilização. Ele conseguiu seu objetivo em Vingadores: Guerra Infinita (2018), quando, com um estalar de dedos utilizando as Joias do Infinito, exterminou 50% de toda a vida existente. Isso significou a morte de trilhões de seres, incluindo humanos, alienígenas e outras formas de vida. No entanto, sua versão nos quadrinhos tem motivações bem diferentes e um histórico de destruição ainda maior.
Nos quadrinhos, Thanos é obcecado pela Morte, que na Marvel é personificada como uma entidade cósmica. Para impressioná-la, ele decide exterminar metade do universo, uma motivação muito mais sombria do que a lógica fria e pragmática apresentada no cinema. No arco Desafio Infinito (Infinity Gauntlet, 1991), ao obter as Joias do Infinito, ele não apenas elimina metade da vida universal com um estalar de dedos, mas também tortura e massacra seres cósmicos, como os Celestiais e Eternidade. O número de mortes aqui também chega à casa dos trilhões, mas Thanos vai além: apaga a própria existência de entidades que representam conceitos do universo, como Tempo e Espaço.
Outro ponto de grande diferença entre as versões é que, nos quadrinhos, Thanos já havia cometido genocídios antes de obter a Manopla do Infinito. Em sua juventude, ele destruiu seu próprio planeta, Titã, matando milhões de seus habitantes, incluindo sua mãe. Além disso, em diversas histórias, ele devastou civilizações inteiras apenas para aumentar seu poder ou testar suas forças, como na saga Aniquilação (Annihilation, 2006), onde auxilia na destruição de diversos planetas. Enquanto no cinema ele foca na ideia de equilíbrio, nas HQs ele age por ambição pessoal e desejo de morte em grande escala.
Independentemente da versão, Thanos é um dos maiores genocidas da ficção (senão o maior). No cinema, seu impacto é revertido quando os heróis trazem as vítimas de volta em Vingadores: Ultimato (2019), mas nos quadrinhos, seus atos costumam ser definitivos e ainda mais destrutivos. Sua mistura de inteligência, força e frieza faz dele uma das maiores ameaças já vistas, seja no MCU ou nas páginas da Marvel Comics.
Falta Marc Remillard, personagem da série de romances de ficção científica de Julian May, “Galactic Milieu Series”.