“Premonição 6”: entre o saudosismo e a reinvenção da morte

Após 14 anos desde o último filme da franquia, “Premonição 6: Laços de Sangue” era um verdadeiro tiro no escuro. Afinal, como saber se, após tanto tempo, a fórmula ainda funcionaria?

O sexto longa da série, iniciada nos anos 2000, chegou com cara nova. Dirigido pelos novatos Zach Lipovsky e Adam B. Stein, dupla que começou no Disney Channel, mas tem raízes no cinema trash com filmes como “O Duende” e “O Palhaço”, o filme também conta com roteiro de Guy Busick, conhecido por “Casamento Sangrento” e “Abigail”. A inserção desses profissionais foi o refresco que a franquia precisava, unindo tudo o que a tornou bem-sucedida com elementos que faltavam e que os fãs pediam há muito tempo: um equilíbrio perfeito entre inovação e tradição.

A trama começa nos anos 1960, quando Iris tem uma premonição sobre um acidente em uma torre. Anos depois, sua neta Stefani começa a ter sonhos semelhantes, revelando que a Morte ainda ronda a família, uma linhagem que, talvez, jamais devesse ter existido. A primeira de muitas surpresas é a direção inventiva e cruel de Lipovsky e Stein. A cena inicial, tradicionalmente a mais marcante da franquia, demonstra não só habilidade para criar suspense, mas também um olhar estético apurado. A torre imponente do acidente é emoldurada por um pôr do sol deslumbrante, contrastando com o horror iminente.

A dupla sabe usar bem a linguagem cinematográfica, explorando a vertigem com planos de baixo para cima e focando em detalhes cotidianos, como o som de um vidro rachando, para gerar tensão. Esse é um ponto essencial da série que havia sido deixado de lado: como transmitir medo através de elementos banais.

As mortes, provocadas por objetos comuns e, principalmente, pelo acaso, são mais ameaçadoras do que nunca. Portas giratórias parecem guilhotinas; ventiladores de teto ganham o peso de trituradores; e uma máquina de ressonância magnética se torna uma ameaça assustadora ao exibir todo seu potencial destrutivo.

Mesmo assim, os diretores dominam o tom e inserem humor em momentos pontuais. Cientes dos absurdos inerentes à franquia, equilibram bem o grotesco com o leve, criando espaço tanto para a tensão quanto para o riso. No roteiro, Busick vai além da fórmula repetida por cinco filmes. Ao focar em uma única família, transforma a trama em algo mais íntimo e emocional, talvez o mais sério desde o primeiro longa.

A narrativa retoma rimas visuais, presságios e simbolismos: músicas que parecem prever o futuro, ventos que anunciam a presença da Morte e sentimentos ruins que antecedem tragédias. Tudo isso contribui para uma ambientação subjetiva e envolvente.

As mortes aqui não são apenas gráficas e absurdas, são também cruéis. A direção saboreia cada uma, tornando-as lentas, torturantes e desconfortáveis. Com o vínculo familiar estabelecido, o espectador sente mais empatia pelas vítimas, aumentando o peso emocional de suas perdas. A morte, tema central da franquia, ganha assim uma nova profundidade.

Tony Todd, ícone da franquia, faz uma última participação como o misterioso personagem que representa a própria Morte. Gravada pouco antes do falecimento do ator, a cena soa como uma homenagem antecipada e, sem dúvida, é a mais marcante do longa.

É verdade que alguns elementos facilitam demais a narrativa, como o “livro de regras” que parece saído do próprio roteiro, e há mortes exageradas que beiram o absurdo. Ainda assim, “Premonição 6: Laços de Sangue” mostra consciência de seus limites e acerta ao equilibrar nostalgia com inovação. O filme é um excelente ponto de virada para uma franquia que sempre soube se reinventar fazendo “mais do mesmo”. Agora, resta saber: será este o novo padrão de qualidade? E até onde a repetição ainda pode levar essa série ao futuro?

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