Conheça a história de grandes golpistas da história

“Todo dia saem de casa um malandro e um idiota. Quando os dois se encontram, dá negócio.” Este ditado popular capta com maestria a essência da trapaça (ou estelionato, como é conhecido tecnicamente). A maioria dos golpes que se tem notícias envolvem falsas alegações de sequestro, prêmios que precisam de um pagamento prévio para liberar. No mundo digital, golpistas aplicam técnicas de fishing para roubar dados da vítima e, posteriormente, roubar senhas e dinheiro. Casas de apostas online podem se enquadrar nisso também, de certa maneira. A criatividade dos vagabundos não tem limite.

Porém, é válido observar (principalmente após ler tantas histórias sobre estelionato) que os criminosos se valem de um dos principais pecados do ser humano: a ganância. Isto é: o golpista só existe, na maioria das vezes, porque existem “espertalhões” que acham que vão ter alguma vantagem da situação, mas acabam lesados. Noutras situações, a inocência (para não dizer burrice) da vítima faz com que fique difícil de defendê-las, uma vez que a situação inteira era gritante para um golpe. Vamos conhecer algumas das histórias.

Charles Ponzi

​Nada melhor começar com um criminoso que é creditado por ter “inventado” o esquema de pirâmide da forma como conhecemos hoje em dia. Charles Ponzi, nascido Carlo Pietro Giovanni Guglielmo Tebaldo Ponzi em 1882, na Itália, tornou-se um dos golpistas mais notórios da história financeira. Imigrando para os Estados Unidos no início do século XX, Ponzi envolveu-se em diversas atividades fraudulentas antes de conceber seu esquema mais infame.

Em 1919, ele fundou a Securities Exchange Company, prometendo aos investidores lucros de 50% em 45 dias ou 100% em 90 dias, supostamente por meio da arbitragem de cupons de resposta internacional (IRCs) — instrumentos postais que permitiam o envio de respostas internacionais pré-pagas. A ideia era comprar IRCs em países com moedas desvalorizadas e trocá-los por selos nos Estados Unidos, lucrando com a diferença cambial. No entanto, a logística para realizar tal operação em larga escala era impraticável, e Ponzi nunca executou efetivamente essa estratégia.

Na realidade, Ponzi utilizava os fundos de novos investidores para pagar os retornos prometidos aos investidores anteriores, criando uma ilusão de negócio lucrativo. Esse método ficou conhecido como “esquema Ponzi” devido à sua notoriedade. Durante cerca de um ano, milhares de pessoas investiram na empresa de Ponzi, atraídas pelas promessas de altos rendimentos em curto prazo. Estima-se que, no auge, ele arrecadou cerca de US$ 20 milhões, uma quantia astronômica para a época. O esquema começou a desmoronar quando jornalistas e autoridades começaram a questionar a viabilidade do negócio e a investigar suas operações.​

As investigações revelaram que Ponzi não possuía os ativos que alegava ter e que sua empresa estava insolvente. Em agosto de 1920, ele foi preso e acusado de 86 crimes federais de fraude postal. Após um acordo judicial, ele se declarou culpado de uma das acusações e foi condenado a cinco anos de prisão federal. Após cumprir parte da pena, enfrentou novas acusações estaduais de apropriação indébita, resultando em mais nove anos de prisão. Mesmo após sua libertação, Ponzi continuou a envolver-se em atividades fraudulentas, incluindo um esquema de venda de terrenos na Flórida, que também resultou em condenação.​

Deportado para a Itália em 1934, Ponzi teve dificuldades em reconstruir sua vida. Durante a Segunda Guerra Mundial, mudou-se para o Brasil, onde trabalhou em empregos modestos e escreveu sua autobiografia. Faleceu em 1949, na pobreza, em um hospital de caridade no Rio de Janeiro. O legado de Charles Ponzi perdura como um alerta sobre os perigos de investimentos que prometem retornos extraordinários sem fundamentos sólidos, e seu nome tornou-se sinônimo de fraudes financeiras baseadas na confiança e na manipulação.​

Victor Lustig

​Nascido em 1890 na então Áustria-Hungria, Lustig é lembrado como um dos mais engenhosos vigaristas da história. Mestre da lábia e fluente em diversos idiomas, ele aplicou golpes audaciosos tanto na Europa quanto nos Estados Unidos. Seu crime mais famoso ocorreu em 1925, quando se fez passar por um alto funcionário do governo francês e convenceu empresários de sucata de que a Torre Eiffel seria desmontada devido aos altos custos de manutenção. Lustig organizou reuniões com os empresários em um hotel de luxo e, após receber subornos e pagamentos pela suposta venda da torre, fugiu para Viena. O golpe foi tão bem executado que ele tentou repeti-lo pouco tempo depois, mas a segunda tentativa foi frustrada, obrigando-o a deixar a França.​

Outro episódio notório em sua carreira foi o golpe aplicado no infame mafioso Al Capone. Lustig solicitou a Capone um investimento de US$ 50 mil para um negócio fictício. Após dois meses, retornou ao mafioso alegando que o negócio havia fracassado e devolveu integralmente o dinheiro, demonstrando uma falsa honestidade. Impressionado com a “integridade” de Lustig, Capone lhe deu US$ 5 mil como recompensa — exatamente o que o vigarista almejava desde o início.​

Nos Estados Unidos, Lustig também ficou conhecido por vender uma “caixa romena”, uma suposta máquina que duplicava dinheiro. Ele demonstrava a máquina inserindo uma nota verdadeira e, após um tempo, a máquina “produzia” uma cópia — na verdade, outra nota genuína previamente escondida. Após convencer a vítima da eficácia do dispositivo, vendia a máquina por altas quantias. Além disso, liderou uma operação de falsificação de dólares em larga escala, injetando milhões em notas falsas na economia americana durante a década de 1930.

Sua carreira criminosa chegou ao fim em 1935, quando foi preso por falsificação de moeda. Condenado a 20 anos de prisão, foi enviado para a penitenciária de Alcatraz, na Califórnia. Lustig morreu em 1947, aos 57 anos, vítima de pneumonia. Seu legado perdura como um dos maiores exemplos de astúcia e audácia no mundo do crime, sendo lembrado como “o homem que vendeu a Torre Eiffel” e que até mesmo enganou Al Capone.​

Philip Arnold e John Slack

​A dupla de primos protagonizou um dos golpes mais audaciosos do século XIX: o Grande Embuste dos Diamantes de 1872. Arnold, um ex-mineiro do Kentucky, e seu primo Slack, ambos veteranos da Guerra do México, arquitetaram um plano para enganar investidores ao alegar a descoberta de uma mina de diamantes no oeste americano. Eles adquiriram pedras preciosas de baixa qualidade em Londres e as espalharam em uma área remota do que hoje é o estado do Colorado, criando a ilusão de um campo rico em gemas. A dupla então apresentou amostras dessas pedras a investidores em San Francisco, incluindo figuras proeminentes como William Ralston, do Bank of California, e o joalheiro Charles Tiffany, que, mesmo sem experiência com pedras brutas, avaliou as gemas em US$ 150 mil, conferindo credibilidade ao golpe.​

Com a validação de Tiffany, os investidores formaram a New York Mining and Commercial Company, capitalizada em US$ 10 milhões, e pagaram a Arnold e Slack US$ 600 mil por seus direitos sobre a suposta mina. Para manter a farsa, Arnold e Slack levaram os investidores ao local “descoberto”, onde haviam previamente “semeado” diamantes, rubis e safiras. Durante a visita, os investidores encontraram facilmente as pedras preciosas, reforçando a ilusão de uma mina legítima. O entusiasmo levou à aquisição de mais terras e à venda de ações da empresa, enquanto Arnold e Slack continuavam a lucrar com o esquema.​

A fraude foi desmascarada quando o geólogo Clarence King, líder de uma expedição do governo, investigou o local e percebeu inconsistências geológicas, como a presença de pedras que não ocorrem naturalmente juntas. King expôs o golpe publicamente, levando à dissolução da empresa e à humilhação dos investidores. Arnold retornou ao Kentucky, onde comprou propriedades e fundou um banco. Ele foi indiciado por fraude, mas nunca processado, possivelmente devido ao desejo dos investidores de evitar mais escândalos. Arnold morreu em 1878, aos 49 anos, após complicações de um ferimento por arma de fogo.​

John Slack desapareceu após o colapso do esquema. Relatos indicam que ele se estabeleceu em White Oaks, Novo México, onde trabalhou como agente funerário até sua morte em 1896. O Grande Embuste dos Diamantes permanece como um exemplo notório de fraude financeira, destacando a vulnerabilidade de investidores ávidos por riquezas rápidas e a engenhosidade de vigaristas em explorar tais ambições.

Gregor MacGregor

Eis a história do homem que inventou um país para aplicar seu golpe mais notório. Gregor MacGregor nasceu em 1786 em Stirlingshire, na Escócia, e ganhou prestígio militar ao servir como oficial no Exército Britânico durante as Guerras Napoleônicas antes de se juntar às forças republicanas na América do Sul, onde alcançou o posto de general na Venezuela e em Nova Granada. Ao retornar a Londres em 1821, apresentou‑se como “Cazique de Poyais”, afirmando ter recebido do rei dos índios Miskito uma concessão de imensos territórios centrais-americanos, que descreveu em discursos públicos e certificados forjados.

Em seguida, MacGregor publicou um guia em capa de couro detalhando a geografia, a fertilidade do solo e as “instituições civis” de Poyais (um país que nunca existiu que, supostamente, ficava na América Central), vendendo lotes de terra e títulos da “Companhia de Emigração de Poyais” em leilões de luxo em Londres. Segundo a Encyclopaedia Britannica, o suposto êxito do empreendimento levou investidores a aportar somas que, ajustadas para a economia atual, ultrapassam centenas de milhões de dólares, reforçado por mapas e estatísticas que ninguém ousou verificar a fundo.

Entre 1822 e 1823, cerca de 250 emigrantes partiram para “Poyais” adornados com certificados de propriedade e promessas de uma terra pródiga; ao chegarem, encontraram apenas pântanos inférteis, e mais da metade morreu de doenças tropicais e fome antes de conseguir regressar. A revelação da farsa, amplamente noticiada e apontada como um dos fatores da crise financeira britânica de 1825, expôs a magnitude da fraude e o sofrimento de colonos que nunca sequer chegaram a estabelecer-se de fato.

Mesmo com o colapso da New York Emigration Company e dezenas de processos por falsificação e estelionato, MacGregor enfrentou poucas penalidades: um tribunal francês o julgou em 1826, condenando apenas um de seus cúmplices. Após breve período preso, ele retornou à América Latina, viveu confortavelmente na Venezuela com sua pensão militar e foi recebido como herói até falecer em Caracas em 1845. O golpe de Poyais permanece como um dos mais emblemáticos exemplos de audácia e manipulação financeira do século XIX, inspirando livros, peças de teatro e ensinando lições sobre a credulidade humana.

Anna Sorokin

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​Nascida em 1991 na Rússia e criada na Alemanha, ela ganhou notoriedade ao se passar por uma rica herdeira alemã sob o nome de Anna Delvey. Entre 2013 e 2017, ela infiltrou-se na elite nova-iorquina, alegando possuir um fundo fiduciário milionário. Utilizando documentos bancários falsificados e transferências fraudulentas, Sorokin convenceu hotéis de luxo, bancos e indivíduos a lhe concederem crédito e serviços sem pagamento antecipado. Ela acumulou uma dívida de aproximadamente US$ 275 mil, hospedando-se em hotéis caros, frequentando restaurantes sofisticados e até fretando jatos particulares sem efetuar os pagamentos devidos.​

Um dos golpes mais notórios envolveu sua amiga Rachel DeLoache Williams, editora de fotografia da “Vanity Fair”. Sorokin convenceu Williams a acompanhá-la em uma viagem ao Marrocos, prometendo que cobriria todas as despesas. No entanto, após acumular uma dívida de US$ 62 mil, Sorokin deixou Williams responsável pelo pagamento. Esse incidente foi crucial para sua prisão em outubro de 2017, quando foi detida em uma operação coordenada pela polícia de Nova York com a ajuda de Williams.​

Em 2019, Sorokin foi julgada e condenada por oito acusações, incluindo grande furto em segundo grau, tentativa de grande furto e roubo de serviços. Ela foi sentenciada a uma pena de quatro a 12 anos de prisão, além de ser multada em US$ 24 mil e obrigada a restituir US$ 199 mil às vítimas. Após cumprir dois anos, foi libertada em 2021, mas logo detida novamente por autoridades de imigração por exceder o tempo de permanência nos EUA. Em outubro de 2022, foi liberada sob fiança e colocada em prisão domiciliar.​

A história de Sorokin atraiu ampla atenção da mídia, resultando em artigos, livros e na série da Netflix “Inventando Anna”, baseada em sua vida. Apesar de sua condenação, ela continua a ser uma figura de interesse público, mantendo presença nas redes sociais e participando de entrevistas. Seu caso destaca as vulnerabilidades das elites sociais e financeiras diante de fraudes bem elaboradas e levanta questões sobre a glamorização de criminosos na cultura popular.​

Elizabeth Holmes

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A embusteira da vez ganhou destaque ao fundar a Theranos em 2003, aos 19 anos, após abandonar a Universidade de Stanford. A empresa prometia revolucionar o mercado de diagnósticos ao realizar exames de sangue completos com apenas algumas gotas coletadas de um dedo, reduzindo custos e tempo de espera para resultados médicos. Em poucos anos, a startup levantou cerca de US$ 700 milhões de investidores institucionalizados e particulares, alcançando avaliação de US$ 9 bilhões e tornando Holmes a mais jovem bilionária de auto-fortuna, segundo a Forbes.

Por trás do brilho, Holmes sabia que a tecnologia “Edison” da Theranos não funcionava conforme anunciado, mas ainda assim apresentou relatórios falsos e demos de laboratório enganadoras para atrair aportes financeiros e contratos hospitalares. Ela também pressionou funcionários a mentirem para clientes e reguladores, omitindo falhas críticas que colocavam em risco a saúde dos pacientes. Entre 2010 e 2015, Holmes convenceu bancos, redes de farmácias e laboratórios a investir e implementar o sistema Theranos, enquanto em paralelo controlava e reprimia internamente qualquer crítica técnica.

Em janeiro de 2022, após um julgamento de quatro meses em San José, um júri federal a condenou por quatro dos onze crimes de que era acusada: um de conspiração para cometer fraude e três de fraude por meios eletrônicos contra investidores, mas a absolveu das acusações relativas a pacientes. O veredicto decorreu da comprovação de que Holmes deliberadamente enganou seus financiadores sobre as capacidades e o uso clínico seguro das máquinas de teste.

Sentenciada em novembro de 2022 a 135 meses de prisão (11 anos e 3 meses), Holmes iniciou seu cumprimento em maio de 2023 em um presídio federal no Texas. Desde então, teve recursos negados tanto pela corte de apelação em fevereiro de 2025 quanto pelo tribunal federal em 2024, que manteve sua condenação. Caso cumpra integralmente a pena, Holmes deverá permanecer atrás das grades até ao menos 2034, servindo como símbolo das consequências legais para fraudes corporativas de grande escala

Natwarlal

Mithilesh Kumar Srivastava, que adotou o nome Natwarlal, nasceu em 1912 no vilarejo de Bangra, no distrito de Siwan, Bihar, na então Índia britânica. Inspirado no primeiro nome de infância de Mahatma Gandhi, ele escolheu o pseudônimo “Natwarlal” para conferir uma aura de respeito e credibilidade às suas fraudes. Nos primeiros anos de sua carreira, trabalhou como ajudante bancário e corretor de frete, onde percebeu que podia facilmente forjar documentos e retirar valores alheios, descobrindo ali seu talento para o crime organizado.

Durante a década de 1960, Natwarlal executou seu golpe mais famoso ao “vender” o Taj Mahal a investidores estrangeiros, apresentando-se como um alto funcionário do governo e exibindo certidões de propriedade falsificadas que supostamente os autorizavam a comprar o monumento. Ele repetiu o golpe outras duas vezes, cobrando valores que iam de 200 mil a 2 milhões de rúpias por cada “venda” e reforçando a ilusão com cerimônias de leilão e contratos forjados. Além do Taj Mahal, Natwarlal estendeu seu esquema a outros marcos nacionais, como o Red Fort, o Rashtrapati Bhavan e até o Parlamento da Índia, enganando empresários ricos e colecionadores de arte com a promessa de possuir esses tesouros históricos.

Condenado inicialmente a 113 anos de prisão por acusações que incluíam falsificação e estelionato, Natwarlal passou menos de 20 anos encarcerado graças a fugas espetaculares. Em 1957, ele deixou a cadeia de Kanpur vestido de policial, subornando os guardas com um malote que, em vez de dinheiro, continha jornais amassados. Sua perícia na forja ia além de contratos de turismo: Natwarlal chegou a enganar bancos ao vender direitos fictícios de mineração de carvão e falsificar cheques de grandes empresas indianas. Para despistar a polícia, usava mais de cinquenta identidades diferentes, mudando constantemente de cidade e evitando ser capturado por longos períodos.

Aos 84 anos, durante uma transferência de detentos para um hospital em Nova Delhi, Natwarlal fugiu novamente em frente à estação ferroviária da cidade, tornando-se um dos fugitivos mais procurados da Índia. Seu suposto falecimento em 2009 permanece envolto em mistério, já que há relatos de que teria sido cremado em 1996, pouco depois de sua última fuga. O feito de vender monumentos nacionais inspirou livros, filmes de Bollywood e até o uso de seu nome como sinônimo de vigarista habilidoso, consolidando Natwarlal como a figura lendária do crime indiano.

João Riél Manuel Hubner Nunes Vieira Telles de Oliveira Brito

Aqui não falamos exatamente de um “golpista”, mas é quase isso. Este homem, cujo nome é tão longo quanto sua lista de falcatruas, é natural de Tunas, no Rio Grande do Sul, e age como um legítimo camaleão social, marcando presença em cerimônias ao lado de autoridades para posar em fotografias e reforçar sua imagem pública. Ele afirma ter escrito mais de 30 livros, coautor de mais de 200 antologias e ostenta títulos acadêmicos de mestrado, doutorado e pós‑doutorado em Direito. Em seu site, fotos ao lado de Jair Bolsonaro, Hamilton Mourão e de ministros do STF buscam conferir credibilidade às suas alegações de ter atuado como advogado e como juiz leigo no Tribunal de Justiça e na Justiça Federal do Rio Grande do Sul.

Em outubro de 2019, ele chegou a participar do quadro “Quem Quer Ser um Milionário”, no “Caldeirão do Huck”, conquistando R$ 15 mil antes de desistir de uma pergunta. No dia seguinte, o site Metrópoles revelou que João Riél havia se passado por “desembargador do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul” para conseguir um encontro com o então vice‑presidente Mourão, enquanto respondia a um processo por falsidade ideológica e exercício ilegal da advocacia em Arroio do Tigre.

Em 4 de setembro de 2015, o Ministério Público da comarca de Arroio do Tigre denunciou‑o por exercício irregular da advocacia e falsidade ideológica, acusando‑o de usar o registro na OAB de outra pessoa para mover ações judiciais, delito que acabou sendo declarado prescrito em abril de 2022, quando também foi absolvido por falta de provas da falsidade ideológica. Essa absolvição alimentou a indignação de advogados como Francisco Campis, que alertou a comunidade acadêmica e a sociedade em geral para o perigo das versões distorcidas que João Riél divulga, ressaltando seu potencial lesivo a públicos menos informados.

Após essas denúncias iniciais, a Delegacia de Polícia Civil de Arroio do Tigre abriu 10 inquéritos para apurar crimes de falsidade ideológica, uso de documento falso e exercício irregular da advocacia, e a delegada Graciela Foresti Chagas indiciou João Riél em dois deles por plágio, identificando trechos copiados de autores universitários em obras que ele assinava como suas. Esses inquéritos demonstram a diversidade e a continuidade das práticas fraudulentas, que vão desde falsificação de documentos até a apropriação indevida de créditos intelectuais alheios.

Em agosto de 2022, cresceu ainda mais a lista de investigações: mais 27 inquéritos foram instaurados, elevando para 40 o total de apurações contra ele, incluindo novas denúncias de falsificação de assinaturas de advogados em processos judiciais, uso de documentos de pós‑doutorado falsos e repetidos casos de plágio. Mesmo convocado a depor, João Riél tem se valido de manobras protelatórias e de mudanças de endereço, estratégia que, aliada à demora processual, o mantém no limiar entre responder pelos crimes ou se beneficiar de prescrições futuras. Atualmente, seu site segue sendo abastecido de tempos em tempos, mostrando seus “novos trabalhos”, e não se sabe a quantas andam os processos em seu nome.

Os golpistas do Tinder (um deles é gaúcho)

Shimon Hayut, também conhecido como Simon Leviev, é um vigarista israelense que ganhou notoriedade mundial como “O Golpista do Tinder” ao enganar mulheres via aplicativo de relacionamentos, mantendo uma fortuna ilicitamente através de fraudes sofisticadas. Desde a adolescência, ele vinha cometendo pequenos golpes, mas foi em 2011 que enfrentou suas primeiras acusações formais em Israel por furto, falsificação e fraude relacionadas ao uso de cheques roubados. Entre 2017 e 2019, estima-se que ele tenha lesado vítimas e instituições financeiras em mais de um bilhão de dólares, apelidando-se de herdeiro de uma fortuna no mercado de diamantes para manter seu esquema de pirâmide pessoal.

Em 2011, Hayut foi indiciado em Israel por falsificação e furto de cheques enquanto trabalhava como babá e prestador de serviços, mas fugiu do país utilizando passaportes falsos e assumindo identidades diferentes. Ele foi preso na Grécia em 2019 em ação conjunta da Interpol e da polícia israelense, após usar um documento de viagem forjado para tentar escapar novamente. Antes disso, em 2015, cortes finlandesas o condenaram a dois anos de prisão pelo golpe que aplicou em três mulheres, mas Hayut serviu apenas parte da pena antes de retornar a Israel.

O ápice de suas fraudes ocorreu quando, sob o nome Simon Leviev e passando-se por filho do magnata Lev Leviev, ele seduziu mulheres no Tinder com jatos particulares, joias caras e jantares luxuosos, apenas para alegar “problemas de segurança” e convence-las a lhe emprestar grandes somas de dinheiro que jamais foram devolvidas. Ele explorava o medo das vítimas, enviando mensagens e fotos de supostos atentados contra sua segurança, o que reforçava a confiança delas e as induzia a realizar transferências urgentes.

Em dezembro de 2019, Hayut se declarou culpado em Israel por fraude, falsificação de documentos e estelionato referente às acusações de 2011, recebendo uma sentença de 15 meses de prisão — da qual cumpriu apenas cinco meses sob regime de liberdade condicional por “boa conduta” e superlotação carcerária durante a pandemia. Enquanto isso, suas vítimas ajuizaram diversas ações civis buscando restituição, e a família Leviev moveu processos criminais por difamação e violação de marca registrada contra ele.

O caso de Hayut ganhou projeção internacional com o documentário “The Tinder Swindler” (2022), da Netflix, e segue sob investigação em várias jurisdições, incluindo novas queixas de vítimas na Suécia e na Noruega. Apesar das repetidas fugas e démarches judiciais protelatórios, sua trajetória evidencia a complexidade de combater crimes de confiança e reforça a necessidade de maior proteção contra fraudes online.

Aqui no Brasil temos um caso semelhante e o falcatrua é gaúcho. Guilherme Selister, natural de Tunas, no Vale do Rio Pardo, transformou as redes sociais em palco para seus golpes, seduzindo mulheres com perfis atraentes de “profissionais de sucesso”. Ele se apresentava como nutricionista, veterinário, engenheiro, cardiologista ou militar para ganhar a confiança de quem o acompanha no Instagram, Tinder e Inner Circle, onde acumula mais de 15 mil seguidores – em sua maioria, mulheres.

Em outubro de 2019, Selister conheceu uma moradora de Caxias do Sul pelo Facebook e, sob o pretexto de uma grave doença neurológica que exigia cirurgia, convenceu‑a a enviar R$ 15 mil. Usando fotos e vídeos que supostamente mostravam sangramentos, ele pressionou psicologicamente a vítima até ela ceder às suas exigências, prometendo sempre novos procedimentos médicos que jamais ocorriam. No mesmo período, apareceu uma denúncia do Ministério Público do Rio Grande do Sul por estelionato e, pela primeira vez em sua trajetória, o crime de ameaça ficou registrado no processo.

Além desse caso, Selister responde a outras acusações por estelionato: em Farroupilha, ele é réu por lesar uma mulher em R$ 70 mil; em Caxias do Sul, há indiciamentos por R$ 70 mil contra uma segunda vítima e R$ 85 mil contra um casal de sócios de academia, embora o MP não tenha dado prosseguimento ao último por falta de representação. Em Guaporé, entrou em ação contra ele uma denúncia por mais de R$ 50 mil, e há ainda um boletim de ocorrência de uma mulher de cidade interiorana que perdeu R$ 48 mil após ele se passar por dono de clínica de nutrição.

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