Dê uma chance para “JoJo’s Bizarre Adventure”

Dentro do mundo dos animes existem diversas polêmicas. Algumas delas são válidas, outras são mera falha de interpretação por parte dos fãs. Porém, outras delas acontecem por conta da dificuldade em entender as diferenças culturais entre o Oriente e o Ocidente. Além disso, vale lembrar que o fenômeno de se fazer animes levando em consideração o público ocidental é bastante recente, uma vez que sempre foram feitos pensando apenas no público japonês. Portanto, o fato de a gente aqui gostar de animes era algo apenas como “consequência” digamos.

Porém, de todas as polêmicas, existe um título que é controverso desde sua mera citação. Só que, assim como livros, animes também são mais comentados do que assistidos de fato. E muitos dos comentários rasos seriam facilmente superados caso a obra fosse conhecida em sua íntegra. Pois bem: “JoJo’s Bizarre Adventure” é um desses animes cujos comentários superam os plays e leituras.

Admito que eu mesmo tive muitos preconceitos antes de começar a assistir “JoJo”, uma vez que me deixei levar pelos comentários maldosos. Mas queimei a língua ao me dar conta de que estava me divertindo mais do que esperava. E aos poucos fui me dando conta do quanto essa obra é competente em transitar entre diferentes gêneros narrativos, sendo que o principal motivo disso é que ela não se leva muito a sério em nenhum momento.

Entendendo a obra

JoJo’s Bizarre Adventure é um dos mangás e animes mais icônicos e influentes da cultura pop japonesa. Criado por Hirohiko Araki em 1987, o mangá é conhecido por sua narrativa ousada (e bizarra), personagens carismáticos e batalhas extravagantes. A série acompanha diferentes gerações da família Joestar, cada uma enfrentando inimigos sobrenaturais em aventuras repletas de reviravoltas. Além de seu enredo cativante, “JoJo” se destaca pelo estilo artístico único de Araki, que evoluiu ao longo dos anos, e pelas inúmeras referências à música ocidental, com nomes de personagens e poderes inspirados em bandas e músicas famosas.

A estrutura da obra é dividida em partes, cada uma com um novo protagonista e ambientação distinta. A Parte 1: Phantom Blood apresenta Jonathan Joestar e sua luta contra o vilão Dio Brando, enquanto a Parte 2: Battle Tendency segue Joseph Joestar enfrentando os misteriosos Pillar Men. A série ganha um novo nível de complexidade na Parte 3: Stardust Crusaders, onde são introduzidos os Stands, manifestações espirituais que concedem habilidades únicas aos personagens.

Ao longo das partes seguintes, JoJo’s Bizarre Adventure continua a expandir seu universo. A Parte 4: Diamond is Unbreakable explora mistérios em uma cidade pequena, enquanto a Parte 5: Golden Wind mergulha no submundo da máfia italiana. A série mantém sua criatividade com histórias como a Parte 6: Stone Ocean, protagonizada por Jolyne Cujoh, a primeira protagonista feminina, e a Parte 7: Steel Ball Run, que reinventa o universo da franquia com uma corrida a cavalo pelos Estados Unidos. A mais recente, Parte 8: JoJolion, mantém a tradição de inovação e experimentação narrativa.

O impacto de “JoJo’s Bizarre Adventure” transcende os mangás e animes, influenciando jogos, moda e até memes da internet. Com sua mistura única de ação, humor e excentricidade, “JoJo” se consolidou como uma das obras mais memoráveis da cultura japonesa, mantendo-se relevante por mais de três décadas.

Anime profundamente teatral

Uma das características mais marcantes de “JoJo” é a sua extravagância e exagero. Contudo, é importante notar que esse fator é bastante arbitrário e até mesmo irônico quando chamado atenção por alguns otakus. Digo isso porque muitos destes são fãs de obras com exageros tão grandes quanto ou até maiores, como “Dragon Ball”, “Bleach”, “Cavaleiros do Zodíaco”, dentre outros. Assim, o fato de “JoJo” utilizar isso e ser criticado é no mínimo hipocrisia.

Contudo, algo precisa ser observado e considerado também: as extravagâncias apresentadas nessa obra talvez soem caricatas e estranhas pelo fato de que possuem um aspecto profundamente teatral. Assim, como o público de forma geral está mais acostumado com a linguagem cinematográfica, talvez algo com referências mais dramatúrgicas possa ser bizarra. Porém, é só uma questão de perspectiva.

Como já foi dito aqui em outras análises, uma obra sempre vai tomar como referência o que foi produzido anteriormente. Dessa forma, uma característica mais “homogênea” no audiovisual de forma geral é a linguagem cinematográfica, que veio do teatro, mas foi desenvolvendo características mais próprias por se tratar de uma expressão artística com suas próprias exigências e convenções. Contudo, em “JoJo”, o que podemos observar não é exatamente esse tipo de identidade convencional, mas sim algo próximo do que seria visto em uma peça de teatro. Diálogos auto expositivos, cenas como se fossem representadas por atores em um palco e elementos dramáticos são alguns dos elementos que se encontra tanto em “JoJo” quanto em uma peça de teatro.

Mas isso o torna ruim? De forma alguma. Na verdade, se “JoJo” adotasse convenções mais “normais”, o mais provável é que fosse uma obra bastante esquecível e pouco relevante.

E por falar em outros animes e mangás mais recentes (pois lembrando que “JoJo” é de 1987), é possível ver de onde alguns autores tiraram diversas inspirações para alguns elementos de suas próprias histórias. Aliás, para quem tem qualquer interesse em literatura comparada e história dos animes, fica a recomendação de ler histórias mais clássicas, uma vez que fica bem “nítido” de onde vieram várias inspirações de coisas que são apreciadas hoje em dia e poucos sabem. Dessa forma, a importância de “JoJo” é bem clara dentro da história das mídias japonesas.

Só que a grande verdade é que “JoJo” é um anime que possui muitos preconceitos, mas é extremamente divertido de se assistir caso isso seja feito de maneira despretensiosa. Não espere uma obra profunda que vá trazer grandes reflexões ou qualquer coisa assim: é simplesmente uma história para passar o tempo e se divertir.

A polêmica sobre a “sexualidade” dos personagens

Uma das primeiras coisas que muitas pessoas podem dizer é que os personagens de “JoJo” são “muito gays”. Antes mesmo de começar a assistir ao primeiro episódio, eu imaginava uma série de cenas de cunho duvidoso, mas após dezenas de capítulos, não vi nada disso. Então, comecei a me questionar o porquê desse anime ter essa fama e não demorou muito para encontrar a explicação. E a resposta está justamente nas diferenças culturais.

Pare e pense por um momento: quais são as características gerais dos “galãs” dos animes (e qualquer história oriental)? Normalmente são homens com um aspecto bem diferente do “modelo masculino” ocidental, que valoriza força e praticidade. Os homens considerados belos no Extremo Oriente são, geralmente, mais andróginos, delicados e com aspectos até mesmo “afeminados”. Basta ver como os ídolos de kpop são representados…

O ponto é que, para as civilizações orientais, homens excessivamente musculosos, com traços quase simiescos e brutais são vistos como um arquétipo do homossexual. E isso foi representado já em diversos animes, sendo alguns de uma forma mais sutil, ou de formas completamente escrachadas, como Charlotte em “Bleach”.

Agora pare e pense: como os personagens de “JoJo” são representados em quase sua totalidade? Pois é: homens musculosos e com traços másculos bem definidos. O fato de eles também adotarem comportamentos e poses caricatas e teatrais corroboram com isso, parecendo personagens mais “espalhafatosos”. E se tratando de uma obra que nasceu no Japão, para um público japonês com tais elementos culturais enraizados, faz sentido que se pense que essa obra, de alguma forma, seja “muito gay”. Acontece que esse discurso foi exportado para os países ocidentais sem qualquer crítica ou questionamento. Portanto, se você espera qualquer cena de caráter duvidoso nesse anime, pode ficar tranquilo que é possível assisti-lo junto de seu pai sem correr o risco de fazê-lo chorar no banho.

As famosas “JoJo poses”

Aqui está uma parte impossível de não comentar: as poses dos personagens de JoJo’s Bizarre Adventure são uma das características mais icônicas da série, ajudando a definir sua identidade visual única. Criadas pelo autor Hirohiko Araki, essas poses exageradas e dramáticas são inspiradas em diversas fontes, como esculturas clássicas, pinturas renascentistas e, principalmente, desfiles de moda – no Japão, era comum que os modelos de passarela fizessem poses exatamente iguais aos dos personagens de “JoJo”. Aliás, o impacto visual dessas poses é tão grande que influenciou até a cultura pop, gerando memes, desafios e até referências em outras mídias.

Cada personagem da série possui poses características que reforçam sua identidade e presença. Desde Jonathan Joestar, que exibe posturas imponentes e heroicas, até Dio Brando, cujo famoso gesto de apontar para o chão ao dizer “Za Warudo!” se tornou lendário. Outros exemplos marcantes incluem Jotaro Kujo, com seus braços cruzados e olhar intimidador, e Giorno Giovanna, cuja pose elegante e refinada reflete sua determinação e confiança. As poses não são apenas visuais chamativos, mas também desempenham um papel na narrativa, destacando momentos importantes e enfatizando a intensidade das batalhas.

Muitos fãs e cosplayers reproduzem as poses dos personagens em fotos e convenções, tornando-as um verdadeiro fenômeno dentro do fandom. Empresas de figuras colecionáveis também aproveitam esse aspecto da série, criando estátuas e action figures que capturam essas posturas icônicas com detalhes impressionantes. Até mesmo celebridades e influenciadores já foram vistos imitando as poses de JoJo, comprovando sua influência cultural.

No fim, as poses de JoJo’s Bizarre Adventure são muito mais do que simples gestos exagerados: elas representam a essência extravagante e estilosa da obra de Araki. Combinando arte, narrativa e expressão corporal de maneira única, essas poses ajudaram a transformar “JoJo” em um fenômeno mundial. Seu impacto continua a crescer, provando que, quando se trata de estilo e criatividade, “JoJo’s Bizarre Adventure” está sempre um passo à frente.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *