O velho testamento das obras adaptadas

Uma das coisas mais comuns no cinema são as adaptações. Grandes estreias são baseadas em livros, quadrinhos, desenhos e até mesmo brinquedos. Mas o que, infelizmente, parte do público não entende é que essas adaptações não têm a obrigação de serem fiéis ao material original, mas sim trazer uma nova nova visão sobre o personagem ou na maneira de contar a história.

Com essa lista busco elucidar essa questão e trazer exemplos de obras que se distanciaram do seu material original em nome de uma liberdade criativa ou estratégia mercadológica.

O Máskara de 1982 vs O Máskara de 1994

Uma curiosidade interessante sobre esse caso é que  o diretor do filme, Chuck Russell, possuía até então trabalhos em filmes de terror como “A Bolha Assassina” e “A Hora do Pesadelo 3”. A primeira ideia para o longa era fazer um filme de terror com o Máskara sendo um anti-herói violento e sarcástico, porém a escalação de Jim Carrey o fez repensar o tom do filme. Dessa forma, tanto ele quanto o estúdio abraçaram a forma de fazer comédia de Carrey, tirando proveito de seu humor físico que tornou o personagem memorável.

Porém, nem sempre o personagem foi assim. A versão original de 1982, criada por John Arcudi e Doug Mahnke, estava mais interessada em demonstrar em como a máscara extraia o que de pior a pessoa tinha por dentro. Ainda que o personagem já possuísse o tom sarcástico que se mantém no filme, tudo é elevado ao extremo, e ao invés de um vilão ficar amassado ao ser acertado com uma marreta gigante, seu cérebro é crânio eram brutalmente amassados.

Homem de Ferro de 1963 vs Homem de Ferro de 2008

A criação do Homem de Ferro em si já é uma história curiosa. A ideia inicial de Stan Lee era criar um herói que ninguém gostasse. Tendo em visto que na época a Guerra Fria se intensificava, Tony Stark surgiu como um bilionário fabricante de armas, que combatia o crime com uma armadura tecnológica. Conforme o tempo foi passando essa visão foi sendo deturpada até chegar no momento em que era mais interessante explorar a fragilidade de um homem tão poderoso. Foi então que em 1979 foi lançada a história “O demônio na garrafa” que mostrava o herói tendo que lidar com traumas e o alcoolismo, trazendo assim temas bem mais sérios e maduros do que estamos acostumados. Além de que, mesmo antes e depois dessa história a personalidade do Tony Stark sempre foi mais séria e sombria.

Em 2008 a Marvel Studios estava iniciando o seu plano para o universo cinematográfico de heróis e não podia arriscar tanto. O tom mais leve adotado na época serviu para o personagem se tornar mais atrativo e chamar mais público para o cinema. Isso deu muito certo, já que combinou muito com a escalação do ator Robert Downey Jr., se tornando mais um exemplo de adaptação que não segue à risca o material original, mas que trabalha com o melhor que tem a oferecer.

Tartarugas ninjas 1984 vs Tartarugas ninjas 1987

Nesse caso a diferença é notável a começar com o traço agressivo dos criadores Kevin Eastman e Peter Laird. A ideia original era ironizar histórias de vigilantes sombrios, principalmente Demolidor, fazendo tartarugas, animais lentos e inofensivos serem ninjas ágeis e mortais.

O sucesso foi tanto que apenas três anos após a publicação eles já receberam a oferta de uma série de animação. Exibida em 1987 pela CBS o desenho das Tartarugas Ninjas não só trouxe o tom bem humorado para a história mas como também foi a responsável pela identidade visual que conhecemos hoje, como por exemplo a paixão por pizza e as cores diferentes das máscaras.

Por causa da expansão da versão animada, rendendo linhas de brinquedos e jogos eletrônicos, a versão em quadrinhos foi sendo esquecida com rapidez. Mas, recentemente, os criadores originais retornaram para uma história em 2020 chamada de “O Último Ronin na qual ao mesmo tempo que faz referência ao tom mais sombrio de sua origem, tira proveito do apelo visual da versão mais leve.

Tartarugas Ninjas sempre vai ter um ponto de identificação com a geração atual, seja qual for, pois seus personagens sempre serão adolescentes. O mais importante, que seus criadores entenderam, é que sua  obra não precisa seguir um tom de cada vez e com uma elaboração maior uma história pode seguir diferentes caminhos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *