4 casos bizarros da história da medicina

Recentemente contamos aqui no Cova Aberta sobre um caso trágico de uma família inglesa que foi amputada devido a um fungo oriundo de cereais. Apesar de bizarra, essa história está longe de ser uma das mais tenebrosas registradas nos anais da medicina. Aliás, definir quais são os relatos médicos mais medonhos é uma tarefa homérica, pois até mesmo hospitais de cidades do interior possuem histórias extraordinárias.

Um dos mais conhecidos na internet nos últimos anos foi quando dr. Paulo Muzy relatou sobre uma mulher que apareceu no hospital com dor pélvica e foi descoberto um bife dentro de sua vagina – que foi introduzido pela própria a fim de fazer uma simpatia de amor.

Aqui em Porto Alegre existe uma história que, nos anos 1990, uma mulher (que era parente ou filha de um político local) apareceu na emergência de um hospital com o corpo de um cachorro de pequeno porte introduzido no ventre – o animal ainda estava vivo e foi retirado com segurança. O mais irônico é que foi assinado um termo de sigilo entre os funcionários que testemunharam o caso, mas mesmo assim o relato circulou.

Por isso, resolvemos pinçar quatro dos relatos que julgamos serem notáveis que foram publicadas em espaços especializados em relatos médicos.

Masturbação extrema

O médico francês do século 19, August-Marie-Alfred Poulet, fez uma observação curiosa a respeito de pacientes que introduzem objetos em suas uretras: geralmente tais instrumentos são relacionados com suas profissões. Em outras palavras, ele descreveu situações que freiras que introduziram velas na vagina, alfaiates que enfiaram agulhas no canal peniano, pintores que se arriscaram com cabos de pincéis – dentre outros. E por mais que soe grotesco, esses tipos de casos são comuns dentro das emergências hospitalares até os dias atuais.

Apesar de formas extremas de masturbação serem comuns em pessoas entediadas – “mente vazia é oficina do diabo” –, nada se compara com o caso descrito por François Choupart, médico parisiense, quase um século antes. O protagonista dessa história é o pastor de ovelhas Gabriel Galien e seu vício compulsivo por masturbação o levou a adotar práticas extremas.

De acordo com o relato do médico, Galien começou com o onanismo aos 15 anos, quando se masturbava de oito a dez vezes por dia. O próprio paciente relatava que, muitas vezes, não conseguia nenhuma gota de sêmen durante a prática, sendo que não raro ejaculava sangue e era acometido por convulsões violentas. Até os 26 anos ele utilizou apenas as mãos para se satisfazer, mas então passou a introduzir gravetos no canal da uretra para adquirir prazer – a profissão o permitia ficar sozinho muitas horas por dia, o que facilitava a prática.

Porém, esse hábito acabou calejando seu canal urinário e ejaculatório, o que o tornou insensível ao prazer sexual. Frustrado, ele passou a introduzir uma faca na uretra e realizar pequenos cortes em sua glande – o que voltou a lhe proporcionar prazer e ejaculação. O fato é que ele seguiu com sua nova prática diversas vezes ao ponto de, lentamente, dividir seu pênis ao meio ao longo das semanas seguintes. Inclusive, ele tinha um método para evitar hemorragia: ao ver que estava sangrando demais, Galien amarrava um barbante ao redor do órgão como uma forma de torniquete até que o sangramento fosse estancado. O médico relatou que, ao tomar conhecimento do caso, o pastor apresentou a capacidade de obter uma ereção, sendo que cada metade do pênis apontava para direções opostas. Por sorte, durante o tempo que essa prática seguiu, ele não contou com nenhuma infecção.

Quando percebeu que não obtinha mais prazer ao partir seu pênis, uma vez que ele já estava completamente dividido ao meio, ele seguiu introduzindo gravetos no que sobrava de sua uretra. E essa prática supostamente teria durado por pelo menos dez anos antes de Galien precisar consultar devido ao fato de ter se descuidado e perdido o graveto uretra adentro, parando assim em sua bexiga. Os sintomas foram dores abdominais, urina presa, vômitos e delírios.

De acordo com o relato do próprio pastor, antes de procurar ajuda médica, ele ainda tentou expulsar o graveto com um cabo de colher. Ao ser examinado pelos médicos e confessado seu estranho hábito, ele foi submetido a uma cirurgia semelhante a usada para remover cálculos na bexiga.

Apesar da época, a cirurgia foi relativamente bem sucedida e proporcionou alívio temporário para o pastor onanista. Contudo, ele viria a morrer três meses depois devido a um acúmulo excessivo de pus no espaço ao redor dos pulmões – chamada de empiema. Raramente essa condição é fatal, mas possivelmente Galien sofreu de algum tipo de sepse devido a essa condição, além das péssimas condições de higiene hospitalar de uma Paris do século 18.

Dentes explosivos

Esse próximo relato é tão surreal que é difícil de acreditar. Além disso, a comunidade médica e odontológica não costuma levar muito a sério por fatores que ficarão óbvios em breve. Contudo, o fato é que ele consta nos registros médicos e é válido ao menos para divertir os apreciadores de casos peculiares.

Em 1861, foi publicado na “Dental Cosmos”, que foi uma revista erudita para dentistas dos Estados Unidos, o relato do dentista W.H. Atkinson, da Pensilvânia. De acordo com seu registro, em um período de 40 anos, ele registrou três casos semelhantes de dentes que explodiram dentro da boca de seus pacientes – causando um impacto sonoro podendo ser ouvido a metros de distância.

O primeiro registro aconteceu em 1817, quando um reverendo apresentou uma dor de dente agonizante – mais especificamente no canino superior direito – que estava lhe causando delírios. Em dado momento, em sua residência, se pôde ouvir um som semelhante ao disparo de uma arma de fogo. Quando foram ver, ele afirmou que sua dor havia passado e caiu em um sono profundo pelas próximas horas. Além disso, seu dente incômodo havia desaparecido por completo.

O segundo caso foi registrado 13 anos depois, em uma mulher da mesma cidade. Ela passou a apresentar uma dor forte em um dos molares superiores ao ponto de delirar, mas em determinado dia foi ouvido um estouro advindo de sua casa. Ela alegou que dor desapareceu na hora, assim como o dente dolorido. Em 1855, uma mãe de família apresentou sintomas semelhantes, mas dessa vez a “bomba” estaria em seu canino superior esquerdo. Após a “explosão”, a mulher não teve mais dor alguma e seguiu sua vida normalmente.

Durante alguns anos, após a publicação desse texto, outros relatos de dentes explosivos foram registrados quase como uma espécie de epidemia. Cerca de 13 anos após o relato de Atkinson, um dentista chamado Phelps Hibler descreveu um caso parecido em um livro de sua autoria. Uma mulher sofria de dor em um molar inferior direito ao ponto de perder a consciência e em dado momento seu dente estourou, fazendo com que a dor passasse na hora.

Caso o leitor tenha achado tais casos surreais demais para serem levados a sério, saiba que provavelmente está certo. Atualmente, as explicações dadas pela comunidade odontológica da época para tais casos não são aceitas, uma vez que se baseiam em teorias fisiológicas obsoletas – como a dos “calóricos livres” que aumentariam a pressão dentária. Também foi proposto que os dentes foram obturados com materiais voláteis e que acumularam grande carga elétrica. Contudo, a explicação mais provável é que tanto os pacientes quanto os dentistas estivessem exagerando ou até mesmo mentindo em seus registros.

Cigarro de mercúrio

A administração de medicamentos faz parte da rotina dos seres humanos desde tempos imemoriais. Contudo, os métodos nem sempre foram tão convencionais como são atualmente.

Durante muitas décadas, a comunidade médica era bastante dividida com relação aos malefícios do tabagismo. Desde sempre muitos profissionais denunciavam a prática como pouco saudável e associado com câncer de boca, laringe e pulmões. Contudo, outros médicos alegavam que a produção de muco que o fumo estimulava era eficiente para o combate de certas enfermidades pulmonares e respiratórias. E como se não bastasse, alguns também consideravam que o cigarro poderia ser uma excelente forma de administrar certos medicamentos.

Em 1851, foi publicado em uma revista médica de Londres uma ideia que havia sido importada diretamente dos Estados Unidos: uma nova forma de tratamento para doenças através de cigarros com mercúrio. De acordo com o autor, um médico chamado J.H. Richards, da Filadélfia, contou a história de um cavalheiro que passou muitos anos morando na China e na Manila, onde o uso do mercúrio para o tratamento de doenças hepáticas era muito comum. Ele relata que os nativos desses países inseriam óxido de mercúrio em cigarros e charutos, o que se transformava em mercúrio metálico ao entrar em contato com o fogo. Ainda de acordo com o autor, o uso de mercúrio era feito há muitos séculos como tratamento médico contra úlceras causadas pela sífilis.

Como se não bastasse, em 1863 foi publicado em um periódico médico canadense uma ideia ainda mais ousada: cigarros com arsênico. Além disso, o artigo vinha com instruções e ilustrações de como produzir seu próprio cigarro de forma caseira. Outros elementos químicos peculiares foram propostos na mesma revista, como fumos acompanhados de salitre – um dos componentes explosivos da pólvora. De acordo com os textos, esses métodos eram eficientes para combater a tuberculose – evidentemente, se o paciente morrer, a doença também tende a desaparecer.

Uma solução inusitada

Tão antiga quanto a administração de medicamentos é a prática de intervenções cirúrgicas. Existem relatos de amputações bem sucedidas feitas há mais de 40 mil anos, o que demonstra o quanto esse tipo de método para o tratamento de certas enfermidades e injúrias.

Contudo, os procedimentos são sempre realizados por terceiros e ninguém seria louco o suficiente para fazer uma cirurgia em si mesmo. Bom, acho que se o leitor chegou até aqui, ele deve ter imaginado que sim, existem pessoas insanas o bastante para fazer isso – talvez seja o menos insano até o momento.

Um dos registros mais famosos de autocirurgia ocorreu em 1961, quando o médico Leonid Rogozov estava sofrendo de uma apendicite no lugar mais inóspito do planeta: na Antártida. Percebendo que era o único qualificado para realizar o procedimento em 16 mil quilômetros, ele tomou a decisão de remover o próprio apêndice. Com a ajuda de um anestésico local, auxiliares e um espelho, Rogozov conseguiu realizar um dos feitos mais notáveis da medicina. Ele conseguiu se recuperar bem e morreu apenas em setembro de 2000.

No entanto, esse não é o único caso de autocirurgia. Na Índia, no final do século 18, um oficial e cirurgião francês Claude Martin desenvolveu sintomas de cálculo na bexiga. Ele percebeu que se não fizesse nada, seria obrigado a passar por uma litotomia – esta que é uma das cirurgias mais antigas da humanidade, sendo registrada até mesmo na antiguidade da Grécia e Índia. Esse procedimento era doloroso e arriscado e, devido a grande erudição, Martin sabia dos riscos em enfrentar tal intervenção. Dessa forma, ele resolveu lidar com a situação a sua própria maneira.

Com as próprias mãos, Martin produziu um instrumento cirúrgico improvisado a partir de uma agulha de tricô. Com o objetivo de limar e destruir o cálculo na bexiga, ele introduziu a engenhoca em sua uretra até chegar no órgão. Aos poucos, ele foi “cutucando” a pedra até que ela fosse destruída pouco a pouco para que então fosse expelida pela urina. Durante semanas, três vezes por dia, o médico limou o cálculo que, lentamente, foi reduzindo de tamanho. Segundo o próprio, ele não sentia nenhuma dor enquanto realizava o procedimento. Porém, devido a um espasmo em sua uretra, em dado momento não foi capaz de remover a agulha por dez minutos antes de relaxar e conseguir removê-la com segurança. O fato é que seu método de tratamento acabou dando certo.

No século 19, foram criados métodos semelhantes ao improvisado pelo coronel Martin, evitando uma cirurgia mais invasiva. A primeira delas ficou conhecida como litotripsia e foi realizada em 1824 pelo médico francês Jean Civiale.

Apesar de termos métodos mais eficientes para enfrentar o problema, pessoalmente, ainda prefiro seguir as recomendações de beber bastante água e evitar excessos de sódio na alimentação. “Um grama de prevenção vale mais do que um quilo de cura.”

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