O fracasso do Dark Universe

Em 2008, a Marvel Studios descobriu uma mina de ouro introduzindo aos cinemas seu “universo compartilhado”, que se iniciou com o primeiro filme do Homem de Ferro. A ideia não demorou muito a ser cogitada por outros estúdios. Assim, a Universal entrou em cena com o seu Dark Universe.

O plano era pegar os clássicos filmes de horror do estúdio, tal como “Drácula”, “A Múmia”, “Lobisomem” e colocá-los em uma continuidade sólida. Mas, como vamos ver a seguir, essa ideia foi um completo fracasso.

Pessoalmente, penso que esse fracasso aconteceu por alguns motivos. O primeiro deles é que o estúdio pensou apenas na propaganda deste universo, mas sem pensar em fazer filmes bons em si. Outro fator é que os filmes pegaram as piores influências dos filmes de heróis e tentaram colocar em filmes sombrios – inclusive, se fosse hoje em dia todo mundo ia falar que foram escritos por IA.

A primeira tentativa

Em 2014, foi lançado “Dracula: A História Nunca Contada”, filme que trazia Luke Evans como um jovem Vlad, guerreiro príncipe da Transilvânia que, ao fazer pacto com um ser sobrenatural, ganha poderes de vampiro para salvar seu lar. Diferente da expectativa criada, não tinha nada de “dark” na obra. Além disso, o longa seguia um tom muito mais semelhante à de um épico de fantasia, no qual carregava em suas costas a influência dos filmes de herói.

Com um investimento de 70 milhões, a nova visão do filme de Drácula arrecadou cerca de 217 milhões mundialmente – um pequeno sucesso comercial mas que ficou aquém das expectativas da Universal. A ideia aqui era que o tal personagem com quem o Vlad fez o pacto, interpretado por Charles Dance, o Tywin Lannister de Game of Thrones, fosse o elo de ligação entre os filmes, sendo o responsável por dar as maldições para cada personagem, que os fez virar os monstros conhecidos.

O filme é bastante genérico. A crítica na época o chamou de “vazio” e “sem criatividade”. Somando isso com a bilheteria abaixo do esperado, bastou para essa primeira tentativa cair por terra e fixar para sempre nas sombras.

A segunda tentativa

A abordagem da Universal após o fracasso de Dracula foi, no mínimo, peculiar. Eles literalmente agiram como se nada tivesse acontecido e dois anos depois anunciaram a chegada do seu Dark Universe. Com um investimento de incríveis 345 milhões de dólares e um elenco estelar, filmes foram anunciados e com direito a fotos promocionais de seus astros e a divulgação do logo oficial da nova marca.

Os filmes seriam, “A Múmia”, estrelado por Tom Cruise e Sofia Boutella, vivendo o papel do monstro do título, “A Noiva de Frankenstein”, estrelado por Angelina Jolie e que também teria Javier Bardem como o monstro de Frankenstein, e “O Homem-Invisível”, que traria Johnny Depp como protagonista.

Além desses citados ainda teríamos Russel Crowe, que faria o papel de Henry Jekyll, famoso personagem do livro “Médico e o Monstro”, esse que seria o elo de ligação entre os filmes e um filme do “Lobisomem” que teria produção de James Wan, diretor da franquia “Invocação do Mal”.

Enterrado e embalsamado

Sendo assim, em 2017 o filme “A Múmia”, estrelado por Tom Cruise, chegou aos cinemas. Custando 195 milhões de dólares, o filme arrecadou 409 milhões – outro número de retorno que até parece ser promissor, mas temos que lembrar que esse filme faz parte de um empreitada maior, na qual custou 345 milhões.

A história acompanha Nick Morton, personagem de Cruise, um explorador que acidentalmente desperta Ahmanet, uma feiticeira que foi mumificada séculos atrás, e que acaba por lançar uma maldição sob o personagem. Além de o longa cometer os mesmos erros do seu antecessor, inclusive repetir a trama de “personagem amaldiçoado ganha poderes”, ele toma decisões incompreensíveis. Exemplo disso foi sexualizar seu monstro do título, colocando ataduras apenas em locais estratégicos.

A obra também esquece de uma coisa preciosa: sutileza. Em determinado momento, em meio a correria e a trama de fim de mundo, o filme literalmente faz uma pausa para estabelecer o mundo que está sendo criado ali. Entra em cena absolutamente do nada o personagem do Russel Crowe, explicando que faz parte de uma organização no qual o intuito é “localizar e deter o mal”. A cena não passa de uma propaganda, tirando nosso foco do filme para nos prometer que o futuro pode ser melhor, mas esse nunca aconteceu.

Com mais esse fracasso, a Universal foi obrigada a realizar alguns desses projetos. “O Homem Invisível” quer seria estrelado por Johnny Depp ganhou uma repaginada total. O roteiro foi entregue para Leigh Whannel e com apenas 7 milhões de dólares, a história ganhou uma versão nova sobre abuso estrelada por Elizabeth Moss, tendo um retorno de 144 milhões de dólares.

O baixo custo do filme de Whannel e o retorno milionário, tem um banho de água fria nos altos investimentos do estúdio, o que colocou o Dark Universe em um limbo que segue até os dias atuais.

Dark Universe nos dias de hoje

As últimas notícias que se tem sobre os projetos do Dark Universe, provém de 2019 onde projetos do “Lobisomem” de James Wan e um filme original chamado Dark Army de Paul Feig ainda respiravam – mesmo que por aparelhos.

A última menção que tivemos do Dark Universe, foi em abril de 2023, quando o roteirista Robert Kirkman, criador de “The Walking Dead” e “Invencível”, estava divulgando o filme Renfield, comédia de ação violenta estrelada pelo ajudando do Drácula. Kirkman, como roteirista do filme, falou em entrevista sobre o Dark Universe:

“Acho que existe potencial. Eu sou um roteirista de histórias em quadrinhos, então é assim que a minha mente funciona. Eu estou sempre pensando nos próximos passos da história. Acho que existem várias oportunidades de explorar esses personagens e expandir esse universo. Teremos que ver se fará sucesso o bastante para justificar isso.”

Por enquanto, esse projeto segue sem atualizações e sem mesmo um sinal de que, algum dia, verá a luz novamente.

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