Brasileiro ama livros, mas odeia ler

O título por si só já resume toda a ideia que quero expor ao longo deste texto. E essa sentença pode parecer contraditória por si só, mas na verdade apenas revela um pequeno sintoma de um problema bem mais profundo do caráter do brasileiro.

Infelizmente, nosso povo tem grande apreço pelo que as coisas representam, mas não pelas coisas em si. Exemplos disso não faltam.

São raros aqueles brasileiros que apreciam a árdua e hercúlea tarefa de se obter conhecimento sério e verdadeiro, mas todos exprimem admiração por diplomas universitários ou títulos acadêmicos – se for um desses vindos de fora melhor ainda. Como resultado, temos pessoas saindo das faculdades sem um mínimo de preparo para exercer as profissões que escolheram. Mas isso não importa muito, pois “aqueles ali têm são doutores”.

Do mesmo modo, são raros aqueles brasileiros que apreciam a ideia de abrir o próprio negócio, empreender e enfrentar todos os desafios de ser um empresário, mas todos admiram as casas, os carros e outras demais posses que essas mesmas pessoas possam vir a possuir. E como a única coisa que importa para o brasileiro médio é essa aparência superficial, “não tem problema” buscar alternativas para se conseguir. Como resultado, temos políticos inúteis, funcionários públicos parasitando o sistema e muitos empresários corruptos.

Mas isso não importa muito, pois “aqueles ali tem dinheiro”.

E como tudo isso se reflete na relação de livros e literatura? De muitas maneiras, então vamos expor algumas delas.

Não é surpresa que o trabalho editorial brasileiro é considerado um das mais belos de todo o mundo e disso, talvez, nós possamos nos gabar. As editoras investem bastante tempo, dinheiro e energia elaborando belas capas e diagramações para seus próprios livros.

Contudo, esse investimento costuma parar por aí na maioria das vezes. Já peguei muitos livros belíssimos com erros grosseiros de revisão e digitação. E isso tudo que nem estou entrando no mérito da qualidade das histórias ou dos conteúdos…

Mas isso não importa, pois no final das contas é legal ter um exemplar bonito na estante. Ouso dizer que boa parte dos proprietários de bibliotecas particulares nunca chegaram a ler os livros que possuem.

O fato é que muitas editoras entenderam isso há algum tempo e trabalham em cima desse fato de uma forma magistral. Note que as editoras menos pobres são justamente aquelas que investem esforço no LIVRO e não na LITERATURA. Se não fosse isso, talvez os autores brasileiros tivessem uma chance relativamente maior de crescer e se destacar – se bem que estes têm sua grande parcela de culpa no próprio fracasso, mas isso é outro assunto.

E por falar em estantes, há algum tempo virou moda entre alguns “intelectuais” e jornalistas o curioso costume de gravar vídeos expondo suas próprias. Claro, por que não fariam algo do tipo? Isso transmite muito mais credibilidade ao que estão falando, pois “são pessoas estudadas”.

É esse o poder que uma estante de livros exerce sobre a maioria. Não importa se o sujeito está falando um monte de bobagens: ele parece ter razão por ter uma biblioteca. Lembre do que havia dito sobre os proprietários das mesmas.

Por fim, eu digo que o Brasil está exatamente onde merece estar pelo fato de ser do jeito que é. Tanto em literatura quanto em política, economia ou sociedade: o brasileiro gosta daquilo que a superficialidade representa e não das coisas em si.

Aqueles que entenderam isso, se forem gananciosos, podem até mesmo ficarem ricos e com a imagem de bons samaritanos. O restante tende a se deprimir e revoltar contra esse fato.

Eu, pessoalmente, escolhi rir dessa situação.

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