Engenhosidade letal: armadilhas usadas pelos vietcongues contra os EUA

Ao fim da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos se destacaram como uma superpotência militar, sendo o exército mais poderoso do mundo na época. Mas como quase 30 anos depois, foram forçados a se retirar depois de uma longa e extenuante batalha no Vietnã?

Como um exército menor, menos equipado e tecnologicamente inferior conseguiu conter e causar enormes danos e perdas aos americanos?

Uma das razões foi a guerra assimétrica travada pelas forças vietcongs, que possuíam muito mais conhecimento do terreno, motivação e engenhosidade para usar os materiais disponíveis para equilibrar a inferioridade tecnológica.

Dentre as táticas utilizadas para esse fim, o uso de armadilhas nesse conflito merece destaque, seja pelo uso frequente quanto pela engenhosidade em sua construção. Se estipula de 11% das baixas norte-americanas foram causadas justamente pelo uso de armadilhas.

A seguir, conheceremos algumas das armadilhas encontradas pelos soldados americanos no Vietnã.

Estacas Punji

    Talvez a mais comum e mais conhecida armadilha antipessoal utilizada pelas forças Vietcongues, as estacas Punji consistiam de estacas de bambu ou madeira, que poderiam variar de comprimento e espessura, que eram espetadas verticalmente no solo, em buracos ou então fixadas em caixas que eram enterradas em áreas onde poderia haver movimentação de tropas, sendo então camufladas com galhos e folhas. Assim que um soldado pisava na armadilha, seus pés ou pernas eram empalados pelas estacas fixadas ao fundo. Para aumentar o efeito, muitas vezes as estacas eram cobertas com urina, fezes ou veneno, com o objetivo de causar uma infecção na vítima.

    Haviam variações nos tipos de armadilhas punji, desde simples buracos com estacas ao fundo, aos quais mais tarde seriam adicionadas estacas nas laterais apontando para baixo, de forma a causar mais ferimentos ao tentar retirar a perna do buraco; até armadilhas maiores, com tábuas que fechavam contra a perna da vítima e tampas giratórias que cobriam fossos onde um homem poderia cair e se empalar em grandes estacas.

    Chicote de Bambu

    Utilizada em caminhos por onde os soldados poderiam passar, essa armadilha era feita usando uma longa vara de bambu verde, flexível, com uma ponta presa em uma árvore enquanto a outra ponta era coberta com estacas de bambu, então era puxado e curvado para trás, como uma catapulta horizontal, presa por um sistema de gatilho improvisado amarrado à um fio esticado no caminho. Quando um soldado pisava no fio e desarmava a armadilha, o bambu voltava violentamente à posição reta, empalando as pernas ou o torso da vítima com estacas de até 30 cm.

    Granada na lata

    Essa armadilha era simples e seu nome é bem descritivo: consistia em granadas de mão, com os pinos de segurança removidos, inseridas dentro de latas vazias, amarradas por um fio e colocadas ao longo dos caminhos e trilhas usados pelos soldados. Assim que um soldado pisava no fio, ele puxava a granada para fora da lata, fazendo a alavanca saltar,  armando a granada e explodindo qualquer um próximo da armadilha.

    Minas de lama

    Uma variação das armadilhas de granada, as minas de lama eram um projeto simples mas engenhoso: granadas de mão tinham seus pinos de segurança removidos, então eram cobertas por uma camada de lama ou argila, que mantinha a alavanca no lugar, em seguida eram secas ao sol. Quando um soldado pisava em uma dessas armadilhas, a casca de lama era facilmente quebrada, liberando a alavanca e explodindo a granada. Eram fáceis de produzir e de camuflar, tornando muito difíceis de detectar, mesmo por soldados treinados.

    Armadilhas de Cartucho

    As armadilhas de cartucho funcionavam de maneira semelhante as estacas punji, sendo instaladas em buracos no chão. A diferença era apenas no material utilizado: ao invés de estacas, um pequeno pedaço de madeira com um prego era colocado ao fundo, em seguida um curto pedaço de bambu com um cartucho de munição dentro era cuidadosamente colocado em cima do prego. Coberto com folhas ou grama para camuflagem, assim que um soldado pisava em cima do cartucho, pressionava a espoleta contra o prego, fazendo a munição disparar contra o pé da vítima (na melhor das hipóteses) ou através do corpo. Calibres menores poderiam ferir, mas no caso dos maiores, a armadilha era letal.

    A maça

    Uma armadilha terrível, a maça consistia em uma bola de madeira, lama ou metal, medindo 60 cm de diâmetro e pesando cerca de 18 quilos, coberta de estacas, e que era amarrada à uma corda, instalada em árvores ao longo do caminho das tropas. Mantida camuflada e presa por um fio esticado no meio do caminho, uma vez desarmada por um soldado que tropeçasse no fio, essa bola da morte descia em um movimento de pêndulo, causando ferimentos terríveis a qualquer um em seu caminho.

    Armadilha de Tigre

    Apesar do nome, essa não era uma armadilha que soltava tigres selvagens contra os soldados. Na realidade, era muito semelhante à maça, porém no lugar de uma bola da morte, havia uma tábua do tamanho de um homem, com tijolos ou outros objetos para aumentar seu peso, coberta por estacas de metal, que ao ser acionada por um soldado pisando no fio de acionamento, descia trazendo a morte a quem estivesse debaixo dela.

    Armadilhas anti-helicópteros

    Durante a Guerra no Vietnã, o exército americano passou a utilizar a sua cavalaria aérea: os soldados entravam e saíam dos campos de batalha em meio à selva com o auxílio de helicópteros de transporte. Para combater esses equipamentos, os vietcongues passaram a utilizar armadilhas nos campos onde haveria a possibilidade de pouso.

    Uma dessas armadilhas consistia em granadas, morteiros ou outros explosivos instalados em árvores ao redor da área, ativados por fios que eram acionados quando o helicóptero pousava. Outro tipo de armadilha consistia em granadas de mão colocadas nas áreas de pouso, seus pinos de segurança eram removidos e elas eram enroladas por um fio que mantinha a alavanca de segurança presa. Na outra ponta do fio, pedaços de papel eram amarrados. Quando um helicóptero se aproximava para trazer ou extrair tropas, o vento das hélices soprava o papel, levando o fio e acionando as granadas.

    Armadilhas de troféu

    Soldados em campos de batalha sempre possuem o costume de recuperar “troféus de guerra”. Sabendo disso, os vietcongues costumavam colocar explosivos ao abandonar suas bases, fazendo com que qualquer soldado que mexesse em equipamentos, caixas ou bandeiras (um dos troféus favoritos) acionasse a armadilha e causasse uma explosão.

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