“Maxxxine” e o preço da fama

Ti West finaliza sua trilogia com coerência e exaltando sua personagem título.

Quando “Maxxxine” começa é fácil perceber que o roteiro não está mais sendo sutil sobre seu verdadeiro foco. Com o sucesso de “X” e “Pearl” não existe desculpas para não exaltar Mia Goth e sua personagem, Maxine Minx, como sendo as grandes estrelas numa trama que vai além do slasher tradicional.

Após os eventos de “X”, Maxine segue sua busca por se tornar uma grande estrela de Hollywood, mas dessa vez ela vai enfrentar um misterioso perseguidor que está ligado ao seu passado.

Assim como seus antecessores, “Maxxxine” busca uma nova visão para contar essa história. Se em “X” tivemos várias desconstruções de clichês do gênero, e em “Pearl”, por sua vez, fez um estudo de personagem do psicológico da personagem que viria ser a assassina de “X”. Agora temos uma história que se propõe a mostrar o que a sobrevivente faz depois de sua grande história sangrenta.

Obviamente “Maxxxine” é sequência direta de “X”, que por sua vez já havia exaltado Maxine como uma final girl improvável. Agora em “Maxxxine”, a protagonista está bem mais implacável do que nunca, nos pegando de surpresa toda vez que decide agir de forma mais ativa, nos mostrando que ela vai até as últimas consequências para defender seu futuro promissor.

O longa se passa em 1985 e é necessário uma longa montagem inicial contextualizando sobre a época. Seriais killers e o pânico satânico, muito influenciado pelo sucesso de “O Exorcista”, eram a causa de um medo e protestos constantes que rondavam a Hollywood da época, trazendo de volta discussões morais já exploradas em “X”.

Os comentários sobre a indústria não se limitam apenas isso.

Logo no início Maxine faz teste para um papel em um filme de terror. A cena é arrebatadora e Mia Goth entrega uma atuação incrível. Como não só ela, mas a personagem são o grande foco a cena é um plano estático e longo do seu rosto, fazendo a gente captar o choro quase imperceptível que rola levemente durante a cena. Após essa entrega incrível, uma das produtores do filme aponta: “levante sua blusa para vermos seus peitos”. Essa sequência mostra de forma simultânea a arte por trás da atuação e também o que de verdade importa para o apelo comercial.

“Maxxxine” está mais para um longa de investigação e suspense policial do que para um slasher propriamente dito. Isso pode frustrar certas pessoas que esperavam mais sangue do que viram em “X” , mas alegrar quem gosta de algo mais sutil como em “Pearl”.

Algumas cenas de angústia podem até incomodar, mas são poucas, assim como a contagem de corpos. Até parece que o foco do filme está voltado mais para época que ele se passa do que para suas mortes, os elementos violentos e o que fariam ele ser mais “vendido” estão ali, porém de forma muito mais dosada.

O roteiro ainda continua sendo um problema. Apesar de aqui termos muito mais estrelas do que nos outros filmes, (Giancarlo Esposito, Kevin Bacon e Elizabeth Debicki são alguns exemplos), seus personagens são reduzidos a caracterização exageradas e só ganham relevância quando o roteiro decide que é a hora. Em um momento de inspiração, temos falas filosóficas da personagem de Debicki e Goth, sobre o que é preciso para crescer na carreira, trazendo de novo a discussão sobre a indústria.

Algumas sequências também se estendem mais que o necessário. Existe uma cena de perseguição que é longa demais, até o ponto que fica cômica (intencionalmente ou não).

Porém, o maior pecado que o longa comete, e que deve ser o principal ponto de discussão e da divisão das pessoas em relação a ele é, sua revelação final. O segredo da identidade do perseguidor é assassino mascarado do filme é tão ridiculamente óbvio que não faria sentido esconder até o fim do longa. Porém, a cena também não é grandiosa e nem existe nenhuma montagem indicado que aquele momento seria o ápice, o que me leva a crer que a intenção nunca foi manter esse segredo por muito tempo. Mas, ao mesmo tempo não faria sentido o filme plantar pistas fazendo ligação do personagem com o serial killer Richard Ramirez, assassino da vida real conhecido como Nightstalker e que é constantemente referenciado em “Maxxxine”.

Sei que acabei de pontuar alguns pontos negativos do filme, mas esse único fator da revelação final me fez ter dúvidas sobre onde eu colocava “Maxxxine” no ranking da trilogia de Ti West. Querendo ou não o longa se manteve coerente com a franquia, sabendo ser brutal quando necessário como em “X” e sendo reflexivo é trazendo ligações com “Pearl” através de pequenos paralelos que comparam as duas personagens.

Sem sombra de duvidas, “Maxxxine” é divertido. Falei recentemente como a trilogia de “Centopeia Humana” tentou fazer algo diferente em cada filme, porém não obteve sentido nessa proposta. Ti West manteve sua visão desde sempre, nunca sobrepondo ou deixando o slasher de lado, mas sim sempre agregando ao gênero e claro, teve a sorte de ter Mia Goth ao seu lado, que possibilitou a exaltar até o fim a atriz e sua personagem.

Talvez, no futuro, “Maxxxine” seja conhecido como novas nomenclaturas como talvez um “pós-slasher” ou um longa “neo-noir”. Mas o que eu afirmo com toda certeza é que o objetivo final foi cumprindo. Em meio a discussões morais e sobre até onde alguém está disposta a ir pela fama, Ti West, Mia Goth, Pearl e Maxine, vocês juntos são uma grande estrela do gênero.

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