As seitas mais bizarras do mundo

Crenças fazem parte da humanidade desde a aurora dos tempos. Essa característica é tão inerente a nossa espécie que ela evoluiu até os dias atuais com base nisso. Porém, cautela ao pensar que isso está somente ligado a religião. Até mesmo a ciência precisa de crença. Isto é: um cientista, ao fazer um estudo, precisa “acreditar” que aquilo que veio antes dele está correto. Do contrário, seria como ter que recriar a roda toda vez que se tenta fazer algo novo.

Como Yuval Noah Harari bem afirma em “Sapiens: Uma Breve História da Humanidade”, a partir do momento que as sociedades humanas se tornaram maiores e mais complexas, a forma de manter a coesão entre as pessoas era através dos mitos e das crenças. Desta forma, se formou uma espécie de “cola mítica” que servia como pano de fundo para a formação dos povos. Porém, como já dito, isso vai bem além do que a questão religiosa. “Acreditar” que a pegada na lama, ou o rugido na noite, pertence a um predador parece mais prudente do que o ceticismo.

Evidentemente que, conforme as sociedades foram se tornando mais complexas, as crenças também se tornaram. Porém, no final das contas, o ser humano é uma espécie que foi feita para acreditar. Alguém 100% cético com relação a tudo praticamente não existe. E até mesmo entra em contradição “acreditar” que o ceticismo é a melhor forma de encarar o mundo.

Dito isso, dentre as milhares de seitas e religiões existentes no mundo até os dias de hoje, é evidente que algumas delas se destacam pela bizarrice e práticas e crenças inusitadas. Algumas até mesmo são difíceis de serem levadas a sério, mas aparentemente existem pessoas peculiares o suficiente para acreditar nelas. Já outras pregam coisas no mínimo perturbadoras. Por isso, hoje vamos conhecer um pouco mais delas.

Igreja do Subgênio

Essa é uma paródia religiosa fundada no final dos anos 1950 por Ivan Stang e Philo Drummond, mas acabou sendo formalmente estabelecida na década de 1970. É conhecida por seu humor satírico, que mistura elementos de várias religiões, teorias da conspiração e cultura popular. O nome “Subgênio” é uma brincadeira com a ideia de que seus membros possuem uma espécie de “gênio inferior” ou “gênio subdesenvolvido”, em contraste com o conceito tradicional de gênio.

A Igreja do Subgênio se foca na adoração de uma figura chamada “J.R. ‘Bob’ Dobbs”, um vendedor fictício de máquinas de lavar que se tornou o “profeta”. “Bob” é retratado como um símbolo do materialismo e do “superficial”, sendo sempre representado com um sorriso enigmático e um cachimbo. Os membros da igreja, ou “Subgênios”, acreditam que “Bob” é a chave para a “Slack” (uma palavra difícil de traduzir, mas que pode significar algo como “descanso” ou “liberdade do esforço”), que é o objetivo final de todos os Subgênios. A “Slack” é essencialmente a capacidade de viver a vida nos próprios termos, sem se submeter às normas da sociedade ou aos “normies” (pessoas não-Subgênios). No entanto, o conceito é amplamente cômico e ambíguo, servindo como uma forma de criticar a conformidade e a banalidade da vida moderna.

Os rituais e práticas da Igreja do Subgênio são intencionalmente absurdos e ridículos, sendo uma clara paródia das cerimônias religiosas tradicionais. A igreja realiza eventos que são mais como convenções de fãs ou festas, com apresentações de música, comédia, e performance art. Seus seguidores são incentivados a serem “autênticos” em suas esquisitices, abraçando a estranheza como uma forma de vida.

A igreja também propaga várias teorias da conspiração absurdas e fictícias, como a crença na “X-Day”, um evento em que os “Xists”, alienígenas interdimensionais, viriam à Terra para destruir os “normies” e levar os Subgênios para a “Slack eterna”. Desde o início, essa ideia foi uma piada, com a data da “X-Day” sendo repetidamente adiada sempre que não acontecia.

Apesar de sua natureza satírica e muitas vezes absurda, a Igreja do Subgênio conseguiu cultivar uma base fiel de seguidores e teve um impacto na contracultura dos Estados Unidos, especialmente durante as décadas de 1980 e 1990. Ela influenciou outras formas de paródia religiosa e movimentos sociais, como o Discordianismo e o Pastafarianismo (a Igreja do Monstro de Espaguete Voador). A igreja também é um reflexo do crescente ceticismo e crítica à religião organizada e à cultura de massa, oferecendo uma alternativa irreverente e subversiva.

Pastafarianismo

Outro exemplo de como a ideia de uma “anticrença” acabou virando uma crença ferrenha. Pastafarianismo, ou a Igreja do Monstro de Espaguete Voador (FSM – Flying Spaghetti Monster), é uma religião paródica criada em 2005 por pelo físico norte-americano Bobby Henderson como uma resposta satírica ao ensino do design inteligente nas escolas públicas dos Estados Unidos. O movimento ganhou notoriedade rapidamente e se tornou uma crítica amplamente reconhecida contra o ensino do criacionismo nas aulas de ciência.

Henderson escreveu uma carta aberta ao Conselho de Educação do Kansas argumentando que se o design inteligente deveria ser ensinado ao lado da evolução, então também deveria ser ensinado o Pastafarianismo, uma teoria que ele inventou, na qual um ser sobrenatural chamado Monstro de Espaguete Voador criou o universo. Henderson escreveu a carta como uma forma de destacar o absurdo de ensinar teorias religiosas como se fossem científicas.

As crenças pastafarianas são propositadamente absurdas, servindo como uma crítica à ideia de que qualquer crença, independentemente de quão irracional possa ser, deve ser respeitada e ensinada nas escolas. Entre as doutrinas do Pastafarianismo estão:

O Monstro de Espaguete Voador: A divindade central da religião, que criou o universo “enquanto estava bêbado”, o que explica todas as imperfeições do mundo.

O Paraíso Pastafariano: Descrito como tendo uma fábrica de stripper e um vulcão de cerveja, ambos funcionando perfeitamente.

Os Dez “Condimentos”: Uma paródia dos Dez Mandamentos, chamados de “I’d Really Rather You Didn’ts” (Eu Preferiria Muito que Você Não Fizesse).

A Adoração da Massa: Os pastafarianos celebram a massa como sagrada e, em cerimônias religiosas, costumam usar um escorredor de macarrão na cabeça.

A Origem da Gravidade: O Pastafarianismo propõe que a gravidade é o resultado do Monstro de Espaguete Voador pressionando todas as coisas com seus “macarrônicos apêndices”.

As práticas do Pastafarianismo incluem o uso de escorredores de macarrão como chapéus cerimoniais e a celebração do “Dia do Feriado”, uma referência à tradição de feriados religiosos em outras culturas. O movimento também criou feriados como o “Talk Like a Pirate Day” (Dia de Falar como um Pirata), inspirado na crença de que piratas são seres sagrados e que o aquecimento global é causado pela diminuição do número de piratas.

Apesar de ser amplamente considerada uma paródia, o Pastafarianismo tem obtido reconhecimento legal em alguns lugares. Em alguns países, pessoas conseguiram tirar fotos para documentos oficiais (como carteiras de motorista) usando um escorredor de macarrão na cabeça, alegando que faz parte de suas crenças religiosas.

Maradoniana

A Igreja Maradoniana (ou “Iglesia Maradoniana” em espanhol) é uma religião paródica criada por fãs do famoso jogador de futebol argentino Diego Maradona. Essa “religião” surgiu na cidade de Rosário, Argentina, em 30 de outubro de 1998, quando um grupo de amigos começou a celebrar o aniversário de Maradona com uma devoção que, com o tempo, se transformou em um culto informal ao jogador. O movimento foi formalizado em 2001, com a fundação oficial da Igreja Maradoniana. Para eles, Maradona era uma figura divina.

Os principais fundadores foram Héctor Campomar, Alejandro Verón, e Hernán Amez, que criaram uma espécie de “igreja” onde Maradona é adorado como um deus.

A Igreja Maradoniana tem sua própria “liturgia” e rituais que são seguidos pelos seus “fiéis”. Algumas dessas práticas incluem:

Oração e Rituais: A igreja tem sua própria versão do “Pai Nosso”, adaptada em homenagem a Maradona, onde a oração começa com “Diego nosso, que estás nos campos, santificada seja tua canhota…”.

Calendário Maradoniano: O calendário da Igreja Maradoniana é diferente do calendário gregoriano tradicional. Para os seguidores, o ano 1 D.D. (Depois de Diego) começa em 30 de outubro de 1960, data de nascimento de Maradona. Por exemplo, 2024 no calendário tradicional seria o ano 64 D.D. no calendário maradoniano.

Dez Mandamentos Maradonianos: Inspirados nos Dez Mandamentos bíblicos, mas adaptados ao culto a Maradona, entre os quais está “Amar o futebol acima de todas as coisas” e “Defender a camisa argentina”.

Natal Maradoniano: Celebrado em 30 de outubro, o “Natal Maradoniano” é um evento anual em que os seguidores se reúnem para comemorar o nascimento de Maradona. Há festividades, jogos de futebol e até mesmo cerimônias de “batismo”, onde os fãs assumem nomes de “apóstolos” ou “profetas” maradonianos.

Ícones e Relíquias: Fotos, vídeos e relíquias ligadas a Diego Maradona são reverenciadas. Camisetas autografadas, pedaços de grama de campos onde ele jogou, e outras relíquias são tratadas com grande respeito.

Embora paródica, a Igreja Maradoniana reflete a profunda devoção de muitos fãs argentinos (e de outras partes do mundo) a Diego Maradona. Essa religião é uma celebração do amor incondicional e da idolatria ao futebol, especialmente na cultura argentina, onde o esporte é quase uma religião por si só. Maradona é uma figura complexa, tanto venerada por suas proezas no futebol quanto criticada por seus comportamentos fora de campo. Para seus seguidores mais devotos, ele transcende essas críticas e é visto como um símbolo de paixão, habilidade, e até mesmo redenção.

O culto a Maradona é também uma forma de expressar a identidade argentina, onde o futebol desempenha um papel central. Para muitos, Maradona é visto como o “Deus do Futebol”, uma figura que trouxe alegria e orgulho ao seu país, especialmente com sua atuação na Copa do Mundo de 1986.

Em resumo, a Igreja Maradoniana é um exemplo de como o fanatismo por um ídolo pode se transformar em um movimento cultural. Com rituais e símbolos que imitam as religiões tradicionais, essa igreja paródica celebra a vida e o legado de um dos maiores jogadores de futebol da história, ao mesmo tempo em que expressa a profunda conexão entre os argentinos e o futebol.

Busologia

Esse é um hobby dedicado ao estudo, à observação e à admiração de ônibus. O termo combina a palavra “ônibus” com o sufixo “-logia”, que indica estudo ou ciência. Os entusiastas dessa prática, chamados de busólogos, se interessam por diferentes aspectos relacionados aos ônibus, incluindo sua história, modelos, fabricantes, operação, rotas e até mesmo a cultura dos transportes públicos.

A busologia é uma atividade com seguidores em várias partes do mundo, mas é especialmente popular no Brasil. Existem comunidades online e grupos nas redes sociais dedicados ao tema, onde busólogos compartilham suas experiências, fotos e conhecimentos. No Brasil, o transporte por ônibus é uma parte significativa da vida cotidiana nas cidades, o que contribui para a popularidade do hobby.

A busologia, além de ser um hobby, desempenha um papel importante na preservação da memória e do patrimônio cultural dos transportes públicos. Os busólogos ajudam a documentar e a manter viva a história dos ônibus e do transporte coletivo, preservando informações que, de outra forma, poderiam ser perdidas.

Igreja de Euthanasia

A Igreja da Eutanásia é uma organização religiosa satírica e de protesto político, fundada por Chris Korda nos Estados Unidos. O grupo ficou conhecido por seu lema provocativo: “Save the Planet, Kill Yourself” (Salve o planeta, mate-se). A igreja promove uma agenda radicalmente antinatalista e ambientalista, com o objetivo de reduzir a população humana como forma de preservar o meio ambiente e garantir a sobrevivência do planeta.

A Igreja da Eutanásia baseia-se em quatro pilares principais, que são:

Suicídio: O grupo incentiva as pessoas a considerar o suicídio como uma maneira de reduzir a população humana, embora não ativamente encoraje ou ajude no ato, insistindo que a decisão deve ser completamente voluntária.

Aborto: A Igreja da Eutanásia apoia o aborto como uma forma de controle populacional, argumentando que a prevenção do nascimento de mais pessoas ajuda a aliviar a pressão sobre os recursos naturais do planeta.

Canibalismo: De maneira satírica, a igreja apoia o canibalismo como uma maneira de reduzir o desperdício de corpos humanos. No entanto, eles especificam que isso deve ser feito apenas com cadáveres que já estão mortos de forma natural, e nunca através de assassinato.

Sodomia: O grupo promove práticas sexuais não reprodutivas, incluindo a sodomia, como uma maneira de evitar a procriação e, portanto, a expansão da população humana.

    A Igreja da Eutanásia é conhecida por suas táticas de choque e campanhas publicitárias provocativas. Eles utilizam cartazes, vídeos, sites e outros meios de comunicação para promover suas mensagens, muitas vezes gerando polêmica e controvérsia. Uma das campanhas mais conhecidas foi o site oficial da igreja, que incluía instruções explícitas sobre como cometer suicídio. Isso gerou uma grande quantidade de críticas e até problemas legais, levando à remoção de parte do conteúdo.

    Apesar de suas mensagens radicais, muitos entendem a Igreja da Eutanásia como uma sátira, destinada a provocar discussões sobre superpopulação, direitos ambientais e políticas de reprodução. A fundadora, Chris Korda, afirmou que a igreja tem como objetivo alertar para os problemas da superpopulação e o impacto ambiental causado pelo crescimento desenfreado da população humana, mas que o tom extremo é usado como um meio de chamar a atenção.

    A Igreja da Eutanásia recebeu muitas críticas e rejeição, sendo considerada por muitos como ofensiva, irresponsável e perigosa. A natureza chocante de suas mensagens gerou protestos e debates sobre os limites da liberdade de expressão, especialmente em relação a temas sensíveis como o suicídio.

    Deixe um comentário

    O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *