Por que nunca vemos filmes de terror no Oscar?

Oscar, a maior premiação de cinema do mundo. Uma vez por ano, homens e mulheres que trabalham na indústria, sejam jornalistas, diretores, produtores, compositores e etc… são escolhidos para integrar o júri e selecionam os melhores de cada categoria. Mas, por que depois de tanto tempo vemos poucos filmes de terror na premiação?

Antes de começar a rever os motivos que podem levar a escassez do gênero na premiação, vamos listar as participações mais relevantes ao longo dos anos.

“O Fantasma da Opera”, a versão do longa de 1943, foi consagrado com o prêmio de melhor direção de arte e melhor cinematografia. Após isso, “O Exorcista” de 1973 chegou a ser indicado na categoria de melhor filme, mas levou apenas melhor roteiro adaptado e melhor som.

Quando falamos de atuação a situação é ainda pior. Natalie Portman por “Cisne Negro”, Kathy Bates por “Louca Obsessão”, Fredric March por “O médico e o Monstro”, Ruth Gordon por “O bebê de Rosemary” e Anthony Hopkins e Jodie Foster, ambos por “O Silêncio dos Inocentes”, são os únicos atores e atrizes a ganharem a premiação por suas performances em longas de terror em quase 100 anos de existência. Inclusive, “O Silêncio dos Inocentes” é o longa de terror com o maior número de Oscar da história, somando cinco prêmios, incluindo o de melhor filme.

Histórico da premiação  

Agora vamos falar sobre o próprio Oscar para entender melhor como ele funciona. A explicação mais simples e direta que eu posso fornecer é que, os membros votantes passam por tendências. Há muito tempo atrás, filmes musicais se destacavam na premiação, depois faroestes, filmes de guerra e os dramas ainda hoje muito presentes.

O júri do Oscar é dito como muito conservador e isso foi chamando atenção das pessoas, ao ponto de popularizar o termo “filme de Oscar”, ou em inglês “Oscar bait”. Com o passar do tempo foi se estabelecendo um padrão nas produções e os estúdios começaram a fazer seus Oscar bait, filmes focados em conseguir um lugar entre os indicados na premiação.

Além disso, alguns aspectos elevam o que se chama de “valor artístico” das obra. Alguns dos filmes citados acima que conseguiram seu lugar no pódio, além de serem de terror também são baseados em livros clássicos, o que aumenta esse valor devido ao histórico da obra ou são feitos por profissionais já consagrados na indústria, o que os torna impossíveis de serem ignorados.

Com o passar do tempo, não só quem fazia parte da indústria percebeu essa padronização. O público começou a notar isso e a audiência da premiação foi caindo, e então mudanças foram feitas aos poucos. Em 2004, regras foram implementadas para evitar o excesso de marketing e favoritismo, e em 2015 foi adotado um sistema de rodízio nos membros do júri. Só então as coisas começaram a mudar. Com uma diversidade maior entre os votantes, incluindo brasileiros como Wagner Moura, Carlinhos Brown e o jornalista Waldemar Dalenogare, mudanças verdadeiras foram feitas e filmes mais diversos foram reconhecidos.

Foi nesse época que Natalie Portman conseguiu seu prêmio por “Cisne Negro”. Anos depois em 2018, “Corra” de Jordan Peele conseguiu seu espaço com quatro indicações sendo, melhor filme, roteiro, direção e melhor ator, ganhando o de melhor roteiro. E isso não afetou apenas o terror, blockbusters mais populares como “Mad Max” e “Pantera Negra”, conseguiram suas indicações em categorias de relevância como melhor filme e direção.

Também ocorreu uma reviravolta em filmes de língua não-inglesa, com o auge sendo o sul-coreano “Parasita” que ganhou melhor filme e mais recentemente o alemão “Nada de novo no Front”. Apesar dessas mudanças terem trazido resultados significativos, ainda sofremos com algumas injustiças. Atriz como Toni Collette por “Hereditário” e Florence Pugh por “Midsommar” ficaram de fora da premiação em seus respectivos anos, causando enorme polêmica na época, assim como os longas mereciam ter entrado, tanto que no ano de “Midsommar” durante a abertura da cerimônia em que os filmes eram homenageados com performances artísticas de dançarinos, o longa de Ari Aster se fazia presente mesmo não sendo indicado a nenhuma categoria.

As chances do terror em 2025

Porém, agora em 2025 talvez tenhamos um novo poente chegando no Oscar. Em 2024 tivemos um longa que gabaritou e está pavimentando seu caminho até a premiação. “A Substância”, de Coralie Fargeat, passou por festivais, ganhando prêmios em Cannes, e foi ovacionado pela crítica, o que carimba a tal validação artística em seu currículo. Além disso, o roteiro do longa traz simbolismos e até mesmo críticas à própria indústria, o que se torna importante em uma época onde cada vez mais o prêmio tenra se modernizar e se reinventar.

E por último e não menos importante. Temos aqui uma performance memorável de uma atriz já consagrada, Demi Moore. Moore atua aqui como nunca antes visto na carreira o que traz uma subversão instigando para a imagem da atriz. Além do que, indicar Moore para esse papel iria de frente com uma das mensagens do filme que basicamente diz que, em certa idade a atriz não serve mais para a telona.

Além dessas questões, “A Substância” é uma obra de qualidade, com um roteiro afiado e atuações ótimas. Seria ótimo ter um filme de body horror entre os maiores e indicado em mais categorias além da famigerada melhor maquiagem.

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